O velho Marx
(Moacyr Scliar)
No conto “O velho Marx”, temos a recriação da história do líder socialista Karl Marx já na sua velhice. Como estava doente, pobre e frustrado, Marx queria passar seus últimos anos de vida anonimamente e no conforto. Decide, então, viver em Porto Alegre, sul do Brasil. Logo após sua chegada, sua filha caçula morre por falta de atendimento médico imediato.
Marx começou a trabalhar numa pequena fábrica de móveis, juntamente com o Negro Querino e Ióssel, um rapazinho de óculos e cheio de espinhas. Sua única intenção era ganhar dinheiro, enriquecer. Para isso, dispensava todos os convites de reuniões, todas as amizades, todas as diversões. Sempre atento a tudo que se relacionava à economia e política, o velho lia muito, ouvia notícias pelo rádio e nas conversas de esquina.
O dono da fábrica de móveis convida Marx para ser seu sócio. A partir de então, o ex-líder da classe operária começou a fazer algumas reformas administrativas e empenhar-se como nunca em seu negócio: despediu o Negro Querino (único funcionário da fábrica), instituiu a linha de montagem, contratou especialistas para cada área da fabricação de móveis.
Como estava iniciando a Segunda Guerra Mundial, Marx mudou também sua aparência para ser cada vez mais um verdadeiro brasileiro, já que começou a fabricar móveis para o exército. Ele instalou alto-falantes na fábrica e colocava diariamente canções patrióticas e mensagens pedindo aumento na produção. Foi o primeiro empresário a investir em publicidade.
Depois da morte do velho sócio, Marx quer testar suas teorias a respeito do proletariado. Para isso, usa Querininho, funcionário e filho do Negro Querino, como cobaia. Já velho e viúvo, Marx torna-se um homem amargo; pensava apenas em ganhar dinheiro diante de qualquer situação.
Karl Marx, quando jovem, sempre ouviu falar na história de um homem que se julgava superior aos outros porque tinha seis dedos no pé esquerdo. Desde que decidiu ganhar dinheiro, o ex-líder socialista contava os dedos do pé: sempre eram cinco. Já velho, o nosso protagonista teve que amputar o pé esquerdo e, com muita pompa, mandou embalsamá-lo e enterrá-lo. Depois de sua morte, alguns manifestantes anti-esquerdistas desenterraram o pé de Marx e descobriram: tinha seis dedos.
Temos aqui mais uma história revisitada com muito bom humor e muita crítica social. Primeiramente porque se trata diretamente de um personagem importante para a história da humanidade ? Karl Marx. Agora, porém, esse símbolo da luta do movimento operário mundial é observado num momento posterior ao de seu auge como líder do socialismo. O enfoque é para sua história quando ele não é mais tão conhecido nem tem tanto vigor quanto antes: a sua velhice.
O narrador fala da maturidade de Marx como um momento de descrença, cansaço e frustração. Simbolicamente, o movimento do qual ele era líder também estava na mesma situação de descrença e de cansaço dentro do conto. Marx troca sua liderança e popularidade por uma vida anônima, mas com conforto. Talvez esse seja o primeiro indício de que se trata de uma obra que tem como base o humor e a crítica social. Ironicamente vemos que o maior líder do socialismo rende-se aos interesses pessoais de anonimato e de conforto. Interesses que são basicamente capitalistas.
Essa rendição não foi, porém, algo fácil para Marx. Só quando viu sua família passando por necessidades é que decidiu testar suas teorias sobre o lucro fácil num país novo. Como conhecia como ninguém o sistema capitalista, com todos os seus erros e acertos, o velho Marx não teria tantos problemas.
Resumos Relacionados
- Marxismo
- A Ideologia Alemã
- Manifesto: Tres Textos Classicos Para Mudar O Mundo
- Comunismo
- Karl Marx E O Conceito De "mais-valia"
|
|