BUSCA

Links Patrocinados



Buscar por Título
   A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z


O Homem da Bola de Vidro Cortada ao Meio
(Jacinto Lucas Pires)

Publicidade
O homem da bola de vidro cortada ao meio era um homem que vivia dentro de uma bola de vidro cortada ao meio. Uma daquelas bolas de vidro cortadas ao meio que às vezes há nas lojas dos trezentos, daquelas que, quando alguem as abana, mostram neve a cair. O seu mundo era só aquele: duas casas vermelhas, muito pequenas, uma estradinha e neve a cair. Isso era tudo o que havia dentro da bola de vidro cortada ao meio, tudo o que ele conhecia. Todos os dias ele ficava parado no fim dessa estradinha a sorrir um sorriso congelado e a apanhar neve na cabeça. Era isso que ele fazia, a profissão dele. Era uma vez esse homem.Um belo dia a bola de vidro cortada ao meio partiu-se. Alguém se descuidou quando ia para abaná-la, deixou-a cair ao chão e ela, pás!, partiu-se.Quando aquilo tudo caiu ao chão, o homen saltou lá de dentro com uma força doida. Deu mil piruetas e despiruetas pelo ar até que, pás!, foi aterrar no meio da avenida. Sentia-se um pouco tonto, mas estava inteiro.Tudo era longe e gigante-gigante, casas, automóveis, pessoas. De um momento para o outro o mundo tinha mudado. (E era como se uma palavra se quebrasse, pás!, dentro da cabeça dele.) Nas letras de cores que se acendiam na avenida, o homem leu "N-A-T-A-L". Apesar de, até aquele dia, ter vivido dentro da bola de vidro cortada aoa meio, sabia ler. Não sabia que sabia mas sabia. E o que pensou foi: " Como é estrambólico este mundo do Natal!" Neste mundo não havia paredes de vidro para o proteger do frio. Fazia frio e vento. Vento ventado nas árvores velhas da avenida, um vento de vozes que ia e vinha, tanto vento que parecia que punha V''s em tudo. O homem tentou sorrir um sorriso congelado como fazia dentro da bola de vidro cortada ao meio, mas não funcionou. Continuava cheio de frio e com um bocadinho grande de tristeza. Até que uma mão enorme apanhou-o. Era enorme e não gigante-gigante era a mão de um miúdo, mas depois a mão enorme tirou-o lá de dentro e os dois tornaram-se amigos. O homem brincava com o miúdo e o miúdo ensinou-o a fazer coisas diferentes de ficar parado a sorrir sorrisos congelados. Ensinou-o, por exemplo a dormir. (Há lá coisa melhor do que um bom sono?). E, a partir daí o homem pequenino aprendeu a sonhar. Fechava os olhos e via neve: neve quente caindo e caindo e caindo até sempre.



Resumos Relacionados


- Pedaços

- Tudo Num Olhar

- A Revolução Dos Bichos

- Novo Vidro Auto-limpante Ajuda O Desembaçamento

- Smoke Bomb! Como Fazer!



Passei.com.br | Biografias

FACEBOOK


PUBLICIDADE




encyclopedia