Resumo de Cirurgias plásticas originaram apenas meia dúzia de queixas

No ano passado, deram entrada na Ordem dos Médicos meia dúzia de queixas relativas a cirurgias plásticas. E raramente visando médicos de outras especialidades. A lei não proíbe e a Ordem não veda a realização de cirurgias de especialidade a médicos que não são da área. No entanto, os riscos - que são inerentes a qualquer intervenção cirúrgica - aumentam quando são praticadas por profissionais não habilitados. A jovem de Faro, que morreu na sequência de uma lipoaspiração abdominal, foi operada por um nefrologista."Embora qualquer médico possa realizar todo o tipo de acto médico, incluindo cirurgias, existe uma norma, no Código Deontológico, que obriga o médico a manter-se nos limites da sua competência", explica Vítor Santos Fernandes, presidente do colégio da especialidade de Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética da Ordem dos Médicos (OM). Ou seja, embora seja eticamente reprovável que um médico execute uma intervenção para a qual não está tecnicamente preparado, a Ordem não o proíbe. A lei também não.Perigo das pseudo-clínicasNa prática, isto significa que "médicos de família, com um curso de duas semanas que explica como se retira gordura por um cânula, façam lipoaspirações em consultórios ou em pseudo-clínicas sem condições para tratar de eventuais complicações", sublinha Vítor Fernandes. Mas, "à falta de queixas de má prática, a Ordem não pode actuar", acrescenta. A maioria das denúncias devem-se a "expectativas goradas" e não propriamente a maus resultados, tecnicamente comprováveis, de acordo com Francisco Freire de Andrade, do Conselho Disciplinar da OM do Sul.Em Portugal, existem cerca de 200 médicos especializados em cirurgia plástica, o que obriga a uma intensa formação de seis anos. José Amarante, director do serviço de Cirurgia Plástica do Hospital de S. João (Porto) - uma das poucas unidades que formam especialistas nesta área - salienta a necessidade de as plásticas só ser praticadas por especialistas e em estruturas hospitalares capazes de lidar com eventuais complicações. O que nem sempre acontece. No ano passado, o Tribunal da Relação de Lisboa condenou dois médicos a pagar uma indemnização de quase cem mil euros aos pais de uma jovem que morreu na sequência de uma operação realizada numa clínica com elevadores onde não cabia uma maca.O tromboembolismo pulmonar que, segundo a autópsia, foi a causa da morte da jovem de Faro é uma das complicações mais frequentes das cirurgias, não só das plásticas, de acordo com o catedrático da Faculdade de Medicina do Porto. Rigorosos exames prévios e uma monitorização atenta no pós-operatório reduzem os riscos. Mas convém que o médico esclareça o paciente que, mesmo a anestesia local, pode ter consequências fatais.Fiscalização inoperanteA forte pressão da publicidade, ancorada num ideal de sucesso associado a beleza e juventude, contribuiu não só para a democratização das plásticas, como também para sua vulgarização. Segundo Vítor Fernandes, "transmite-se a ideia de que a cirurgia plástica é algo muito simples, leve, banal, sem consequências e não é verdade. Não sendo especialmente perigosa, acarreta riscos, como qualquer procedimento cirúrgico". E acrescenta "O problema é que não há fiscalização eficaz e o comportamento deontológico de muitos médicos não é exemplar".Não há números fidedignos que retratem a realidade portuguesa, mas sabe-se que as plásticas estão cada vez mais na moda. Um produto de luxo agora mais acessível com pagamentos a prestações e outras facilidades para quem não está satisfeito com o seu corpo. Os preços também são muito variáveis. Sem tabela de referência, cada clínica cobra o que lhe apetece.

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