Resumo de As raízes do pensamento Filosófico - Prof. Hans Georg; Gadamer; Prof. Vittorio Hösle; Prof. Mario Vegetti

As raízes do pensamento Filosófico –
Entrevistados : Prof. Hans Georg Gadamer, Prof. Vittorio Hösle, Prof. Mario Vegetti.
http/www.emsf.rai.it
Qual a relação entre a mudança dos costumes atenienses pela guerra do Peloponeso e o nascimento do movimento cultural conhecido com o nome de “sofística.”?
Hösle: A sofística como primeiro grande momento iluminístico da história é peculiar à cultura grega. A cultura indiana nunca duvidou, a partir de argumentos racionais, dos valores aceitos pela sociedade. É um passo necessário no progresso da humanidade. Mas, se a crítica não desenvolve novos valores ocorre o niilismo.
Como descrever as características desta nova figura intelectual? As acusações proferidas por Platão (intelectual de profissão, estrangeiro que ensina por dinheiro) expressavam a desvalorização social e moral na cultura ateniense aristocrática. Mas a obra dos sofistas é necessária. A dimensão política democrática de Atenas (séc. V) exigiu mudança na educação e novas competências. (retórica, persuasão nas assembléias, tribunais)
Poderia resumir brevemente as teses de Górgias e o objetivo de sua argumentação? Hösle: Parmênides é tese da filosofia grega , Górgias é a antitese. Com as três teses: “não há nada”, “mesmo que existisse algo, não o poderíamos conhecer” e “mesmo que nós pudéssemos conhecê-lo, não poderíamos comunicá-lo”, Górgias nega Parmênides para quem existia só o ser, que é absoluto, cognoscível e comunicável pelo pensamento e palavra. Nega o valor absoluto das categorias ontológica, gnoseológica e da comunicação da filosofia. O que existe é um ser flutuante e empírico e a comunicação influenciada pela retórica não se fundamenta em verdades absolutas.
Que significado o sr. atribui a este elogio da arte retórica? Gadamer: Os sofistas eram técnicos do espírito, grandes oradores e argumentadores lógicos. Hoje seria o monopólio do especialista. Para Sócrates o especialista não sabe o que é o bem.” Mas os sofistas não são o mal pois “defendo que também nós temos necessidade de uma racionalidade política e social dos valores.” Sócrates aponta os riscos de não levar em conta nos questionamentos a responsabilidade que se deve assumir quanto ao bem da humanidade em seu conjunto.
Que importância adquire a retórica e como se relaciona com as concepções filosóficas da sofística?
Hösle: Êles eram professores que ensinavam aos jovens aristocráticos de Atenas a vencer causas e processos, a convencer. Quando a importância da palavra cresce, decresce a crença num ser absoluto.
Para Parmênides, o ser absoluto é algo que se precisa entender baseando-se numa clara intuição lógica. Sem a idéia de verdade absoluta, a coisa mais importante para se ter poder, é influenciar as opiniões, daí a a importância dada à retórica. Para Protágoras o grande orador consegue fazer parecer o que quer e, desta maneira, fazer a verdade. Mas há o grande mérito de terem feito uma análise da linguagem.
O que está em jogo na polêmica entre Platão e Protágoras? Vegetti: A frase que coloca o homem como medida de todos os valores pode indicar que não há justiça que tenha origem em princípios transcendentes ou externos ao mundo humano. Tese perigosa a de Protágoras se o fundamento e justificação moral da democracia desaparece. Daí a reação socrática e platônica: encontrar fundamento para os valores morais que regulem a vida política. Protágoras pode ser visto como predecessor de uma teoria liberal-democrática do direito, (libertação do direito divino) mas surge o problema de ser possível promulgar leis que violam a dignidade dos seres humanos. (Antígona)
Qual a atitude da sofística a respeito da religião ? - Hösle responde situando três fases: teodicéia , crítica científica (queda do poder divino), crítica antropológica. Um dos grandes problemas da sofística: rejeitar um fundamento da moral que esteja além do próprio ser humano e tentar fundar a moral sobre o egoísmo racional.
Que utilidade pode ter hoje: Pode-se falar hoje de atualidade da sofística? Hösle: Ela é um momento necessário da história do espírito. O pensamento dominante em nosso século é relativista e niilista. Os princípios da filosofia moderna repetem a sofística em níveis mais elevados, diferenciados negando normas e princípios ontológicos absolutos. Estudar a sofística. é compreender o nosso tempo. Sobretudo a efetuada por Sócrates e Platão que superou as conseqüências negativas e niilistas desta postura.

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