O TOURO BRANCO
(FRANÇOIS-MARIE AROUET (Voltaire))
Escrita por Voltaire em 1774, misto de lendas orientais traduzidos pela metamorfose animal, acrescido de mitos religiosos, ligando homens e animais numa miscelânea interativa.
A urdidura dessa fábula desenrola-se em torno do amor da princesa Amaside, filha de Amásis, rei de Tâmis, pelo soberano da Ásia, Nabucodonosor, na fábula, transformado em Touro Branco por Daniel, a mando de Amásis, como castigo pelo seu destronamento, durante sete anos.
Personagens históricos, bíblicos e mitológicos envolvidos, aproveitam-se da oportunidade para justificar atos pelos quais foram julgados e até condenados de forma dogmática por várias gerações.
Encontramos a Serpente do Paraíso que persuadiu Eva a comer uma maçã, e a fazer com que o marido comesse também, na fábula, a serpente apresenta olhar terno, fisionomia nobre, atraente. Condenada pelos conselhos dado, de provar do fruto da árvore do conhecimento e da ciência, diz: acreditava agradar ao senhor de todas as coisas, assim, a árvore do conhecimento não ficaria inútil. Encontramos a jumenta, aquela que falou num caminho a Balaão, responsável por aconselhar Balaque a instigar Israel a participar da idolatria. O peixe, que engoliu Jonas há muitos anos. O cão que seguiu o anjo Rafael e o jovem Tobias na viagem que fizeram a Ragés, tempo do grande Salmanasar. O bode, que expia os pecados de toda a nação. O corvo e a pomba, que estavam na arca de Noé. Todos encarregados de guardar o Touro Branco, junto à pitonisa de Endor, senhora famosa por evocar sombras.
Amaside de 24 anos, criada e educada por Mambrés, antigo mago eunuco dos faraós, nomeado por Amásis como superintendente da casa da filha, com missão de ensinar-lhe tudo o que era permitido a uma princesa saber sobre as ciências do Egito.
Por conta da paixão de Amaside por Nabucodonosor, o rei de Tâmis a proibiu de até proferir o nome do amado, sob pena de ter o pescoço cortado pelo próprio pai.
Passeando, a princesa avista no bosque banhado pelo rio Nilo, uma velha coberta de farrapos, sentada. Próxima dela, uma jumenta, um cão e um bode. À frente uma serpente, um enorme peixe com a cabeça fora da água, e sobre um ramo, um corvo e uma pomba, todos em animada conversa. Junto à velha, um belo Touro Branco, atado a uma corrente de aço, que, ao ver a princesa, correu para ela como um cavalo árabe.
Apesar dos esforços da velha, e dos animais presentes, ninguém conseguiu deter o Touro que se lançou aos pés de Amaside, beijando-os, derramando lágrimas, contemplando-a com um olhar de dor e alegria. O Touro era entre todos, o único que não podia falar.
Amaside fica impressiona e deseja-o em seu estábulo. Pede a Mambrés que o compre. Porém, a velha diz que o animal não a pertence, não tem preço, que os outros animais, facilmente se descobre quem são, e a serviço de que estão, porém, é expressamente proibido dizer-lhes do touro. E completa, informando à princesa que o touro não está à venda, mas promete deixá-lo pastar próximo ao palácio, assim, ela poderá acariciá-lo e dar-lhes biscoitos.
O Touro a tudo ouvindo e compreendendo, deita-se aos pés da princesa e mugi contemplando-a com ternura.
Sabendo que a serpente é ardilosa e persuasiva, Amaside solicita uma entrevista, no desejo de descobrir quem era o Touro Branco. Cobre de elogios à vaidosa serpente que aos poucos, deixa escapar que o Touro Branco nada mais era que um grande rei, que há cerca de sete anos, teve um belo sonho, perdeu memória ao despertar; porém, um jovem judeu, cheio de experiência, lhe explicou o sonho, mas, esse amável rei foi de súbito transformado em boi.
Ao descobrir que o Touro era o seu amado, cai desfalecida, todos a imaginam morta. O Touro ao ouvir os clamores, se solta e vai ao seu encontro. Amaside pressente a presença e volta a si, chama-o de senhor e meu rei, envolve seus braços ao pescoço do animal, deixando a todos surpresos.
A notícia espalhou-se e o rei, acaba sendo informado. Em cólera, e indignado pela desobediência da filha, mandou prendê-la em seu quarto sob os cuidados de dois eunucos. Os ministros de Estado concluíram que o touro branco era um feiticeiro. Por unanimidade, foi votada que, deviam exorcismar a princesa, e sacrificar o touro branco e a velha. Mambrés sabia que a princesa corria risco de ter o pescoço cortado e o Touro de ser queimado e servido à mesa ou entregue ao peixe de Jonas para ser devorado. Elabora um plano de escreve uma carta ao grão-sacerdote de Mênfis, pois, sabendo da morte do deus, o boi Ápis, teria outro para colocar no lugar, que esse, junto aos seus sacerdotes, viesse depressa para reconhecê-lo, adorá-lo e conduzi-lo ao estábulo do templo.
Os sacerdotes chegam cantando: O nosso boi, nós o perdemos, Outro mais belo ganharemos.
Amásis, surpreso, não cortou o pescoço à filha. A ordem das coisas havia mudado. Desamarrou o boi e foi o primeiro a adorá-lo. A princesa tomava a liberdade de o beijar, com respeito. E Mambrés, dizia a serpente: Daniel transformou esse homem em boi, e eu transformei esse boi em Deus.
Sete anos cumpridos! Quebra-se o encanto e o boi, voltando a sua forma humana, fala a Amaside que a amará por toda a vida e completa: sou Nabucodonosor, rei dos reis.
O Touro Branco (1774) FRANÇOIS-MARIE AROUET (Voltaire)
Fonte Digital - Domínio Público
Resumos Relacionados
- Fábulas - O Touro E O Mosquito
- Genética – Herman, O Touro
- O LeÃo, O Delfim E A Águia - FÁbulas
- O LeÃo Envelheceu - FÁbulas
- Fábulas - Momo, Atena, Zeus, Prometeu
|
|