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Jornal Debate - Caderno D
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GURU TEMPERAMENTAL


Lá pelos idos de 1930, Ipaussu, cidade paulista situada na então região fisiográfica da Estrada de Ferro Sorocabana, experimentava avanços progressivos em todos os setores da vida de sua gente. O cultivo do café, num crescendo verde sobre as terras férteis, fazia germinar novidades que, até certo ponto, se consistiriam em luxo de alguns anos antes.
Quanto aos imigrantes, já não se resumiam tão só em braços provindos de outros continentes, senão que também, entre eles, surgiam lideranças de respeito e decisivas para o avanço de novas idéias.
Há a considerar, por esse tempo, a predominância da população rural. Na década de 40, enquanto o número de moradores urbanos era de 2.353, a zona rural contava com um total de 7.354 almas.
As diferenças individuais agregam pessoas por ideologias e credos em comum. Não tardou, pois, surgir no sítio Baixo da Serra, um Centro Espírita. Aos poucos aumentou o número de irmãos, na sua quase totalidade constituída por proprietários de terras ou profissionais liberais. O catolicismo predominante, somado ao espírito conservador dos colonos, explicava esse elitismo, ainda que as portas do templo dos elitistas espíritas da época, fossem franqueadas a quem a elas fosse bater.
Com esse crescimento em número, além do desprendimento dos membros, eis que em breve, o referido o grupo veio de se instalar na cidade, em local de fácil acesso.
Entre esses fundadores, havia no Sítio Palmital, um indiano, conhecido por Salvador Singh. Ele sempre aparecia no centro do Baixo da Serra e ele próprio lançou a idéia de mudá-lo para a cidade. O local exigia deslocamentos incômodos. Alguns espíritas se obrigavam a cavalgar léguas e léguas, vinda e volta de onde moravam.. Como as sessões ocorriam à noite, era difícil, mesmo com tempo bom, vencer cada qual o seu percurso. O indiano Salvador, mesmo sem fazer questão, passou a liderar o grupo espiritual. Por via de uma analogia levantada pelos próprios confrades. Assim como se associava um suíço a relojoeiros, um indiano deveria ser, por este raciocínio, um guru, um guia espiritual.
Veio a inauguração. Claro que com a discrição que o movimento sempre se pautou. Pelo fato de ter comparecido com recursos consideráveis em favor da boa causa, o que fez sem qualquer interesse, por menor que fosse, o certo é que ele foi indicado para presidir a cerimônia de Inauguração da entidade em sua nova sede, agora urbana.
Foi revestido desse poder, por unanimidade dos confrades. Salvador contava sempre que na Índia, a iniciação, a um espiritista de verdade, consistia em ir ao cemitério à meia-noite e fazer com que todas as almas dos finados se levantassem de seu respectivo túmulo ou cova. Por modéstia, talvez, não mencionou se passara por essa iniciação.
Aberta a sessão inaugural, um médium começou a receber um espírito de má índole, que se recriminava por seus maus feitos terrenos: “Matei umas vinte pessoas; até perdi a conta.Acho que maatei mais até. Detestava mendigos, e castigava crianças e velhos com meu chicote, sem piedade. Hoje estou aqui, nas trevas, sofrendo horrores! Não agüento mais! Não enxergo nenhuma luz. A dor da alma é a pior de todas, meus irmãos.”
Salvador Indiano, a presidir a mesa, ajustou ainda mais o porte atlético e disparou, ficando em pé para que o espírito ouvisse bem a sua doutrinação, quase raspando com os bigodes a orelha do médium:
- Safado, sem-vargônia. Eu acha poco pra ocê. Seu ordinário, cafajeste. Vem aqui pra se arrependê depois de morto? Sai fora desse corpo senão eu bato nesse médium pra ocê sentir o peso de meu mão. Non me chama de irmão, seu malandro duma figa. Vagabundo! Sai daqui. Vai baxá noutra centro.Se não eu mata ocê di novo...!
Acorreram de pronto os confrades. Instaram com Salvador para que falasse em termos amorosos e com caridade, àquela alma infeliz, que ali estava em busca de luz e compreensão.
A sessão se encerrou ali mesmo. Alguns entre os presentes ficaram desapontados. Mas a esmagadora maioria, pelo inusitado, não conteve o riso pelo desconhecido método de doutrinar do indiano , e mais ainda, pela cara assustada do médium estreante.



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