A Vida em Coma
(Superinteressante.com.br)
Conhecido há 3 milênios, o coma segue sendo um
enigma. O que sente o paciente? Como ressuscitar alguém nesse estado?
Com um arsenal de novas técnicas, a ciência tenta desvendar o apagão
cerebral.
Texto Daniel Schneider
Atropelado por um caminhão enquanto andava de bicicleta numa pequena
cidade da África do Sul, em 1994, o operador de máquinas Louis Viljoen
jazia incomunicável havia 5 anos em sua cama de hospital.
O diagnóstico era aterrador: o rapaz de 24 anos jamais recobraria qualquer nível de consciência.
Os danos cerebrais eram sérios e o coma profundo. De olhos abertos, mas
sem qualquer sinal de atividade consciente no cérebro, Louis
apresentava um único movimento: um espasmo freqüente no braço esquerdo.
Sua mãe, Sienie, não suportava a cena. Em uma de suas visitas diárias,
ela pôs na boca do filho uma pílula para dormir. Como que por milagre,
os espasmos cessaram. O semblante de Louis mudou. Seus olhos se moveram
da esquerda para a direita. Ele murmurou. Incrédula e assustada, a mãe
perguntou:
– Louis, você pode me ouvir?
– Sim.
– Diga olá, Louis.
– Olá, mamãe – respondeu ele, repentinamente despertado do coma.
Casos assim não acontecem toda hora, mas são emblemáticos porque reúnem
os principais ingredientes da misteriosa condição de estar em coma, um
estado profundo de inconsciência mencionado pela primeira vez nas obras
Ilíada e Odisséia, de Homero, no século 8 a.C.
Afinal, o que é exatamente o coma? Onde começa a fronteira do
estado de inconsciência? O que passa pela cabeça de pacientes como
Louis? Eles podem ouvir, ver, sentir dor? Acima de tudo: como é
possível acordar alguém desse estado? Por que uma pessoa que tomou pílulas para dormir... despertou?
Resolver o enigma da inconsciência começa pela definição do seu oposto:
a consciência. Para a neurologia, consciência é a capacidade de estar
alerta e interagir com o meio e as pessoas, possuindo pleno controle
das funções cognitivas – raciocínio, memória, capacidade de julgamento
e fala, por exemplo.Ou seja, não é algo físico, mas o resultado direto do bom funcionamento
do encéfalo, a parte do sistema nervoso central que fica no crânio e
que abrange o cérebro, o cerebelo e o tronco cerebral.
O coma é o contrário de tudo isso: um estado de inconsciência (ou
consciência afetada) gerado por algum tipo de lesão no encéfalo, que
causa a morte ou desativação de um grupo de neurônios, desligando ou
afetando seriamente a consciência. Quanto mais grave a lesão (quanto
maior ou mais específica a área afetada), mais profundo tende a ser o
estado de inconsciência.
O organismo tem bons motivos para fazer uma pessoa apagar. Em casos de
acidentes graves – uma batida de carro ou uma pancada muito forte na
cabeça –, qualquer energia preservada pode fazer a diferença entre a
vida e a morte.
Colocar o cérebro em stand by gera uma economia que pode ser utilizada
na manutenção dos sinais vitais – pressão arterial, respiração e
batimentos cardíacos. Os médicos copiam essa mesma tática no chamado
coma induzido. Eles associam doses calculadas de remédios (geralmente
barbitúricos, depressores do sistema nervoso central) com a redução da
temperatura corporal para provocar o coma em pacientes que precisam
preservar suas células cerebrais – em casos de cirurgia no cérebro, por
exemplo. Reverter o quadro é simples: basta interromper aos poucos o
processo de hipotermia e a medicação.
No coma natural, é impossível prever quanto tempo a pessoa fica
apagada. Geralmente, a recuperação total da consciência acontece num
período de 2 a 4 semanas. Quando o estado persiste por mais de um mês,
as chances de melhora vão diminuindo gradativamente e o paciente entra
num tipo de coma conhecido como estado vegetativo. Não há funções
cognitivas nem resposta a qualquer estímulo externo. Mas não é o fim.
Há vidas e vidas em coma. O que dois pacientes podem fazer e sentir
varia enormemente, dependendo do grau de inconsciência.
Resumos Relacionados
- O Sono
- Morte Cerebral, Afinal Do Que Se Trata?
- Velocidade X Traumatismo
- Traumatismo Cranioencefálico(tce) Conceito E Tratamento
- A Dieta De Alimentos Crus Cura A Tensão Alta
|
|