SEMIOLOGIA NEUROLOGICA NUMA POPULAÇÃO DE ESCOLARES DA PRIMEIRA SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL
(VANDA M. G. GONÇALVES*; JOSIANE M. F. TONELOTTO**; SOLANGE G. RAVANINI***)
O cérebro está em constante evolução, através de sua inter-relação com o meio. A criança percebe o mundo pelos sentidos, age sobre ele e esta interação se modifica durante o seu desenvolvimento, percebendo de diferentes formas e ampliando os seus horizontes, pensando de modo mais complexo, comportando-se com maior precisão. Com o objetivo de conhecer aspectos neurológicos de um grupo de crianças freqüentando a primeira série do ensino fundamental, sem o conhecimento precedente do desempenho escolar delas, foi proposto este estudo, no sentido de se avaliar padrões individuais, independentemente de cumprirem ou não os conteúdos escolares propostos. Método Foram incluídos todos os alunos que freqüentavam, no ano de 1998, cinco classes da primeira série do ensino fundamental de uma escola pública escolhida ao acaso, sendo realizado um estudo piloto no município de Itatiba/ São Paulo. Não houve conhecimento prévio do rendimento escolar dos alunos. Foram enviados 145 Termos de Consentimento Livre e Esclarecido e devolvidos a tempo e devidamente preenchidos, 130. Foram excluídos outros 6 alunos que faltavam à avaliação agendada em três datas diferentes. Assim, foi considerada a amostra da pesquisa, um total de 124 discentes. Utilizou-se o exame Neurológico Tradicional (ENT), que avalia crânio, fala, força muscular, tônus muscular (através da apalpação, movimento passivo dos membros superiores e inferiores); reflexos profundos e superficiais; equilíbrio estático e dinâmico, coordenação apendicular, coordenação tronco-membros, sensibilidade, nervos cranianos e sinais meníngeos. Resultados O ENT foi normal em 87 (70,16%) e alterado em 37 (29,83%) escolares. Não houve associação significativa quanto ao sexo. Entre os que apresentaram semiologia neurológica alterada, verificou-se uma única alteração em 31 (25%) crianças. Apresentaram duas alterações, 6 (4,83%) escolares. Nestes foi observada associação de paresia facial central direita e síndrome de VI nervo craniano à direita; macrocefalia associada a leve hipotonia muscular; atraso na aquisição da fala, clono de pés ou hipotonia muscular de membros associados a leve tremor. Uma criança apresentou três alterações neurológicas, constituídas por leve hipotonia muscular nos membros, reflexos aquilianos exaltados e clono de pés esgotáveis e simétricos. Discussão Foram avaliados alunos da 1ª série do ensino fundamental, ponderando anormalidades de respostas em pelo menos uma das provas do ENT foram observadas em 29,83% dos escolares. Os achados foram isolados, não foi possível coligar síndromes neurológicas, nem tiveram valor preditivo de localização, com exceção de um escolar, em que foi possível identificar a síndrome específica de liberação do trato cortiço-espinal nos membros inferiores. Estão incluídos no conceito de sinais neurológicos menores, fenômenos como a astereognosia, reflexos primitivos, disdiadococcinesia, movimentos em espelho, extinção. São considerados também com exemplos de sinais neurológicos menores, movimentos involuntários, incoordenação e anormalidades sensoriais como a astereognosia e agrafoestesia. Nas últimas décadas têm sido apresentadas avaliações padronizadas dos sinais neurológicos menores. O atraso na aquisição da fala foi observado em 8,68% dos escolares avaliados nesta pesquisa. Esta freqüência foi semelhante aos resultados encontrados com crianças que apresentavam dificuldade escolar, quando foram observadas dislalias em 4%. Considerando dados da literatura, a fala não deve apresentar alterações aos 7 anos de idade. Entretanto essa alteração foi encontrada nessa faixa etária, em escolares com dificuldade ou em deficientes mentais. Os resultados encontrados na avaliação da fala nessa pesquisa levam os indícios de que os escolares que apresentaram atraso na aquisição, principalmente aqueles com dislalias por troca, deverão ser acompanhados anualmente quanto à escolaridade e se necessário, ter sua avaliação neurológica complementada por equipe interdisciplinar, para excluir a deficiência mental ou distúrbio de aprendizagem. Avaliando crianças com dificuldade escolar, foi mencionado que o único aspecto ENT que se mostrava patológico era o tonos muscular, sendo deparado um maior número de hipotônicos no grupo com dificuldade escolar (42%), comparados cm o grupo com bom rendimento escolar (22%). Conquanto os resultados fossem diferentes, encontrando quase o dobro de hipotônicos, não houve diferença estatisticamente significativa, sendo definido que tal inquirição é insuficiente para distinguir os dois grupos. Naqueles escolares que apresentaram 2 sinais neurológicos, presentes em 4,83% das crianças, os achados foram compatíveis com alteração difusa do SNC, caracterizadas pela associação de alterações do perímetro craniano, da fala ou clono, associados o leve tremor ou leve hipotonia muscular. Esses sinais descreveram várias anormalidades no exame neurológico, que se espera que não seja parte de síndrome neurológica bem definida. O significado clínico desses sinais não determinantes de resultados e foram considerados como indicadores de lesão cerebral inespecífica. Essa semiologia poderia tornar mais clara o comprometimento neurológico, se complementada pela avaliação de função nas ares de coordenação motora, função sensorial integrativa e organização de tarefas motoras mais complexas. Outra opção seria o acompanhamento neurológico longitudinal desses escolares, verificando-se como se manifestam essas discretas alterações em faixa etária maior. Escreva seu resumo aqui..
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