As Duas formas de amar
(site mais o próprio)
Vou falar de amor (que, pretensão!). Esse temazinho tão pouco explorado. Não sei por que vou falar de amor, com tantos assuntos fervilhantes pós-modernos. Mas vou falar. Talvez até para aproveitar o árido intervalo em que não ando flexionando o verbo amar (no sentido de enamoramento). Amando, não poderia falar de amor.Reflectia sobre duas formas de amar. A primeira, que chega abruptamente como uma labareda, ardendo, rompendo, rasgando, devastando os sentidos. Condicionado à tirania das emoções de alta voltagem, esse tipo de amor sempre se acredita ser a mais absoluta e hiperbólica das experiências, e tende a aprisionar o outro em um único universo de dois incandescentes habitantes, que se consomem solitários dentro de seu círculo fechado, pois que nada mais existe. Prazeres e dores são sentidos visceralmente na mesma intensidade. O tempo, para essas erupções delirantes, é sempre muito curto, e acaba criando, no seu decorrer, amantes extenuados. As chamas costumam ser rapida e dolorosamente apagadas e tudo se transforma em cinzas.
A segunda forma de amor é mais humilde, mais distraída, mais natural. Chega devagar, sem que se perceba. Chega ao longo do tempo, às vezes de muito tempo. É pavimentada através do conhecimento mútuo, sem pressa, sem a intenção sequer de ser amor. Não conheceu hipérboles ou lirismos megalómanos, não conheceu posses. Criou-se natural, na sucessão de pequenos prazeres e risos, no histórico de dores confidenciadas, de trocas de existir. Veio do encontro livre de almas afins. Não berrou, não gritou, nada cobrou, nada quis para si. A presença, ou memória de presença, era sempre suave e passeava em liberdade. As ausências eram bem suportadas, como se houvesse no ar a certeza de novos reencontros. Esse amor não se trancou, egoísta, num universo único. Multiplicou-se em si e transbordou ao mundo. Percebeu, subitamente, que o tempo fortalecera os laços, de forma tal que as ventanias não haveriam de devastá-lo facilmente.
São duas formas de amor. E "qualquer maneira de amor vale a pena".
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