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Os blogs e o futuro da humanidade - Parte 2
(Odir Cunha)

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Porém, como o poder aquisitivo, a fama e o status social serão determinados pelo sucesso dos blogs, seus proprietários se dedicarão a eles numa escala de tempo assustadoramente crescente. Seis horas por dia, oito, dez, doze, quatorze...Os mais bem-sucedidos tomarão remédio para não dormir, para assim poder postar mais e melhor e responder a mais comentários. Muitos usarão de todos os recursos para divulgar seu blog, para torná-lo mais visto, mais famoso, mais passível de receber a dádiva do patrocínio, sempre escasso e seletivo.Famílias se desintegrarão pela obsessão do blog. Marido e mulher, pais e filhos, irmão e irmã, não terão mais tempo um para o outro. Avós e netinhos nem ao menos se verão. Haverá ciúme e espionagem entre amigos. Serão comuns casos de morte por inanição, pois muitos se negarão a abandonar o teclado e terão de ser alimentados por sondas.Teatros e cinemas se esvaziarão. Os filmes serão comentados, mas nunca vistos. Fechadas em suas casas, as pessoas analisarão as obras de arte, o futebol, os programas de tevê, mas ninguém irá mais a museus, a estádios, ou ao menos ligará a televisão. Com o tempo, sem público para aplaudi-los, artistas e atletas também desistirão de criar ou competir e se restringirão aos seus blogs.As ruas ficarão vazias. Em uma tarde de inverno, em São Paulo, sem vento e nenhum carro na rua, será possível ouvir o soturno matraquear dos teclados. À noite, cães solitários, há tanto tempo saudosos do calor e da atenção dos humanos, talvez uivem como lobos.No começo, os formadores de opinião, oriundos do jornalismo e do show business, reinarão também entre os blogueiros. Mas essa fase será curta. Logo, muita gente perceberá que é plenamente possível escrever melhor e gerar discussões mais interessantes do que os especialistas, e essa irreverente constatação, além de acabar com alguns mitos, criará um ambiente de extrema competitividade.Como qualidade é algo subjetivo, o critério para se avaliar o sucesso de cada blog será o seu nível de visibilidade. “Chegar ao primeiro milhão” não terá nada a ver com dinheiro, mas sim com o número de comentários postados. Todos comemorarão essas marcas, ao mesmo tempo em que torcerão para que outros não as alcancem. A inveja será o mal do homem-blogueiro.Mesmo unido pela mesma língua e pelos mesmos costumes, o homem do terceiro milênio não será muito mais honesto ou ético do que o de hoje. E assim, ao perceber que só pode contar com visitas esporádicas de amigos piedosos, enquanto outros blogs estão bombando, ele terá uma atitude profundamente indigna.Este homem invejoso e medíocre, esse fracasso como blogueiro, como seria em qualquer outra profissão, este ser vil e desprezível, para não passar a vergonha de ter um blog invisível e impotente, gastará horas intermináveis entrando e saindo de seu próprio blog e, infâmia das infâmias, criará infinitos e-mails e com eles postará uma profusão de comentários, predominantemente elogiosos. Dizem que notícia ruim corre mais rápida. Pois hábitos ruins também. Em pouco tempo a fabricação de visitas e comentários a seu próprio favor se tornaria um hábito comum entre blogueiros mal-sucedidos, a maioria.Tamanha dedicação ao seu próprio e ridículo blog demandaria muito tempo e afastaria definitivamente a maior parte dos blogueiros dos blogs bem feitos, que de uma hora para outra se veriam esvaziados. Confusos, alguns donos desses bons blogs não entenderiam porque estariam sendo abandonados e, tentados pela vaidade, também criariam e-mails falsos para manter as aparências.Finalmente, a evolução da equação binária homem-blog chegaria à sua fórmula final: nas ruas desertas e perigosas, tomadas pela hera, habitadas apenas por errantes e maltrapilhos sem-net, só se verá desolação e decadência. Há muito os homens terão perdido a habilidade de fabricar carros ou manter a luz elétrica.Olho o futuro distante e vejo, fechados em quartos sujos e malcheirosos, com a pele escurecida pela poeira, seres humanos que tamborilam freneticamente em teclados ensebados. Postam, copiam, colam, postam, copiam, colam, abrem seus outros e-mails, comentam, respondem, comentam, respondem, atualizam, começam tudo de novo... Sorriem sozinhos, com seus dentes esverdeados, e soltam sons guturais de prazer quando alcançam marcas múltiplas de um milhão. Fingem brigar com seus heterônimos, imaginam o que os outros vão pensar quando lerem o seu blog – mas na verdade há anos não são lidos por mais ninguém, a não ser por si mesmos.Esqueceram a língua falada. Estão condenados a se comunicar pelo idioma sintético que um dia foi chamado de “O Esperanto que veio dos blogs”, mas não passa de um código rústico e inculto, que amputou as belezas da língua. Não podem mais definir a multiplicidade das sensações. Faltam imagens, adjetivos. Tudo que é ruim, de saudade a assassinato, é “maus”, tudo que é bom, de amor a sexo, é “blz”. Calculam quanto tempo falta para a morte e dividem pelo tempo que leva para produzir cada post.
Artigo reproduzido com a permissão do autor.



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