Sofista
(Platão)
SOFISTA
Como mágico e imitador o sofista é inserido no gênero dos prestidigitadores e ao lado das demais técnicas existentes na cultura é submetido à diálética platônica. A mímesis realizada pelo sofista é a de aparentar ser capaz “de produzir e executar, por uma única arte, todas as coisas...”(233d)
O método proposto no diálogo é o de dividir metodicamente este gênero como anteriormente foi feito com atividades mais simples, até que, com a delimitação precisa de cada termo, e chegando ao último reduto das classificações, não houvesse mais possibilidade de ambigüidades em relação à caracterização do sofista.
De cada tipo de atividade percorrida, é retirada uma definição. Elas vão se somando e problematizando o ensino da excelência a um outro a bom preço e em pouco tempo: caçador de jovens ricos, produtor e vendedor atacadista das ciências relativas à alma, atleta do discurso.
A sétima divisão, bifurca-se em arte de transportar as exatas características de um modelo (largura, comprimento, profundidade e tonalidades) e a arte do simulacro onde há um ajuste da obra ao olhar dos que a vêem.
Surge aqui uma contradição pois o real e o falso se confundem no campo dos efeitos instaurados pelas imagens. O ser e o não-ser já não podem ser delimitados nitidamente.
Esta contradição exige uma teorização que, partindo da indistinção entre o falso e o real alcance uma interpenetração entre ser e não-ser.
A extensa elaboração que se segue exige a inclusão do Mesmo e do Outro na divisão inicial dos três grandes gêneros: Ser, Repouso e Movimento.
As relações estabelecidas entres os cinco gêneros aponta para um entrecruzamento entre eles dentro de um certo campo de relações e de critérios.
Movimento e repouso por exemplo, não se interpenetram, entretanto estes dois gêneros na medida em que são, evidenciam que o ser participa de ambos. Esta colocação exige uma diferenciação entre o ser e o mesmo do qual tudo também participa.
O ser quando confrontado a diversas especificações é também não-ser. A negação não aponta para algo contrário, mas para uma multiplicidade. “... cada parte do outro que se opõe ao ser constitui realmente o não ser”. (258 c) A multiplicidade do que o ser não é, permite inclusive a discriminação da singularidade do ser enquanto gênero.
Por outro lado há também ser no não-ser na medida em que sua enunciação, não podendo dispensar uma definição quantitativa (singular ou plural), utiliza necessariamente a unidade constituinte e integrante do número.
No discurso os termos se definem pela relação entre eles e o não ser participa do ser. A falsidade é definida pela indistinção entre um e outro, isto é pela designação do outro como sendo o mesmo, e desta maneira Platão finalmente chega ao abrigo do sofista: não considerar de modo algum o não ser no discurso isto é, suprimir radicalmente a necessária relação entre ser e não ser.
Chegar ao sofista exigiu o atravessamento das imagens para atingir o campo do discurso e nele localizar o filósofo e também o político.
No diálogo em questão, Platão aponta além dos problemas intrínsecos ao método dos sofistas, o equívoco presente na idéia de que seja possível oferecer excelência sem processo dialético.
PLATÃO. Sofista. Trad. De Jorge Paleikat e João Cruz Costa. São Paulo: Abril Cultural, 1972 (Os Pensadores).
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