UM CORPO TOMBADO NA ESQUINA. Cotidiano de uma Grande Metrópole
(MARIA MARTINS DE PAIVA)
UM CORPO TOMBADO NA ESQUINA - Final de semana prolongado, na maior metrópole do Brasil. Aquela que dizem não parar. Esteve lá na calçada; na esquina que em outros dias é tão movimentada; por mais de sete horas o corpo estendido no chão.Era um cantador, sim um músico que por quatro longas décadas ali naquela esquina se dedicou ao oficio de tocar e cantar. Cantava e encantava. Quem por ali passava. Seu ofício também era sua sina. Fizesse sol ou fizesse chuva, estava lá alegrando quem passava, sem nenhum reconhecimento, a não ser as míseras moedas que lhe atiravam os transeuntes ao passar.Família? Era como um pássaro que vive do seu cantar, quem vai engaiolá-lo? Dizem que tinha; optou por viver só. Só esta hoje. Estendido na rua.Seu séqüito é formado por alguns transeuntes apressados, que ao passar furtam de seu precioso tempo um instante só, de seu estarrecimento.A cidade está parada. Não tem Ambulância, Camburão ou Rabecão nem Perícia, e o corpo no passeio público coberto por jornais. Uma alma caridosa,alguém acende uma vela . O violino emudecido. Nenhum órgão público vem buscá-lo Dois policiais de plantão fazem guarda ao corpo sem vida.Para aquele que certamente será baixado à sepultura, sem amigos, sem parentes, sem honraria, Não terá ninguém para o acompanha-lo à sua ultima moradia. Está sendo velado ali mesmo, pela sua platéia; a qual encantava com sua música.Homenageado por uma escolta oficial, no seu palco onde exibia sua arte para milhares de pessoas que no dia a dia durante quarenta anos involuntariamente por ali passavam.A cidade que dizem não parar; por alguns instantes, aqueles que mesmo no feriado movimentam a cidade, pararam Pelo silêncio daquele violino emudecido para sempre.
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