PARÓDIA, PARÁFRASE & CIA
(Afonso Romano Sant’Anna)
A APROPRIAÇÃO
Uma técnica de configurações
Apropriação é um termo de entrada recente na crítica literária. A técnica da apropriação chegou à literatura através das artes plásticas. Identifica-se com a colagem: a reunião de materiais diversos encontráveis no cotidiano para a confecção de um objeto artístico.
A técnica da apropriação vem do primeiro Dadaísmo, os artistas manipulavam objetos da sociedade industrial para construírem suas obras.
Poderíamos até introduzir uma diferenciação nos graus de apropriação, e falar de uma apropriação do primeiro grau e uma apropriação do segundo grau. A apropriação é de primeiro grau quando é o próprio objeto que entra em cena; e é de segundo grau, quando ele é representado, traduzido para um outro código.
Conteúdos
Na paráfrase e na paródia, podem-se localizar, um pró-estilo e um contra-estilo, na apropriação o autor não “escreve”, apenas articula, agrupa, faz bricolagem do texto alheio. A transcrição parcial é uma paráfrase. A transcrição total, sem qualquer referência, é um plágio.
Como no caso da paródia, o que caracteriza a apropriação é a dessacralização, o desrespeito à obra do outro. Transformar a obra do outro em simples objeto e material para que realize a sua.
Haveria, pode-se dizer, uma relação entre a apropriação e a sociedade de consumo. Nesta sociedade, os objetos assumiram o lugar dos sujeitos. O sujeito não é mais o centro. Indivíduos e objetos são descartáveis.
A paródia é a inversão do significado, que tem o seu exemplo máximo na apropriação. Paráfrase é a apropriação de cabeça para baixo.
Na paráfrase, a apropriação é fraca, ela se dá pela inserção do apropriador naquilo que é apropriado. A paráfrase é uma quase não autoria, já a apropriação propriamente dita, por se situar não no conjunto das similaridades, mas no conjunto das diferenças, é uma variante da paródia e tem uma força crítica.
Seria lícito aproximar a paródia e a apropriação também de um regime político e dizer que se assemelham mais a um universo democrático? O deslocamento da propriedade do texto, a eliminação dos donos da escrita, a possibilidade de cada criador manipular o real do texto segundo suas inclinações críticas, nos conduzem a esse raciocínio.
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