O Povo das Montanhas Negras
(Raymond Williams)
O povo das Montanhas Negras é romance no qual o tempo se conta em séculos e milênios. Um plano narrativo do livro conta a história de Glyn em busca de seu avô Elis, que não retornou de uma caminhada através das Montanhas Negras. Quando Glyn sai em busca do avô, numa noite de lua cheia, começa a ouvir vozes do passado. Essas vozes evocam a saga dos antigos habitantes daquelas montanhas cujos vestígios ainda estão presentes: cacos de cerâmica, pontas de flechas, utensílios, antigas habitações, estátuas, círculos de pedras. Vestígios sólidos da memória, mas não vestígios soltos, fragmentos desconexos e, sim, acumulados num determinado lugar: as Montanhas Negras. Estas montanhas são tão presentes e enfáticas durante todo o romance, que funcionam como um bordão musical sustentando a narrativa. Dessa forma este bordão não permite que uma história comum seja suprimida por memórias individuais ou fragmentadas. As memórias individuais, as recordações dos personagens estão presentes em cada conto, mas invariavelmente têm como fundo o lugar.
Deste modo, abrangendo um tempo cronológico que abrange cerca de 25 mil anos, Raymond Williams constrói a história de caçadores, pastores, guerreiros e sacerdotes, entre outros, e as narrativas vão se acumulando como camadas de um sítio arqueológico tomando a forma dos mitos e das lendas.
Do início ao fim o livro chama nossa atenção para a importância do lugar na vida dos personagens. A idéia do lugar, o sentimento de pertencer a um lugar é o fio condutor da narrativa. É pelo bem do lugar que um povo vive, resiste, e afirma sua identidade. É o lugar que une todas as narrativas, todos os contos e que motivou o título desta dissertação. Lugar ocupado não apenas por reis, rainhas, príncipes e princesas, mas por pessoas simples vivendo em comunidade. Caçadores, pastores, artesãos, escravos, senhores e guerreiros tendo sua existência formada pelo lugar. Pessoas comuns, vozes esquecidas ou apagadas da história. Mas a opção pelo resgate da voz dos “de baixo” mais do que uma escolha formal é uma opção política e Williams sempre fez questão de deixar claro quais eram seus posicionamentos políticos. Todos os romances de Raymond Williams têm um fundo histórico e de Border Country (1960) a O Povo das Montanhas Negras (1991) o autor recria a topografia e as relações sociais da sua terra natal. As lutas, indagações e a resistência da classe operária. As transformações históricas causadas pela industrialização de Gales, a politização de uma região ao mesmo tempo agrícola e industrial, estão presentes na ficção de Williams. Em O Povo das Montanhas Negras, as lutas entre as classes, os choques culturais, a resistência de um povo às inúmeras invasões e, principalmente, as relações deste povo com o lugar são temas sempre presentes que proporcionam leituras instigantes.
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