Sociedade e Sambaqui
(Marco Antonio Santos Cruz)
SAMBAQUI – CASO LIMITE ?? O próprio espaço do sambaqui é um aspecto estruturador da vida em sociedade. O lugar em si mesmo faz parte do ser do objeto. O tratamento especial nos funerais de certos indivíduos [ ossos cobertos com corante vermelho, esculturas de pedra, etc.], independente de sexo ou idade sugerem desigualdade social. A visão da corrente de pesquisa dita “neo-evolucionismo” apoiava-se em estágios tipologizados. Assim , segundo Feinman, “Bando” e “Tribo” são consideradas formas sociais igualitárias aonde a divisão do trabalho baseia-se em idade, sexo e habilidades. A liderança é individualizada e mutável, dependente de carisma pessoal. O “bando” é nômade, a “tribo”, geralmente um grupo sedentário com economia baseada na agricultura e domesticação de animais. Já a “Chefia” [outro estágio tipológico], são hierarquizadas, com acesso diferenciado a bens, informações e “status”. A liderança pode ser herdada e o poder institucionalizado. Existe especializações econômicas. Há produção dos bens além do que necessitam para sua subsistência. Incluem 10 mil pessoas ou mais. No “Estado” surgem as classes econômicas , maior território e maior número de pessoas do que “Chefia”. Muitas são as críticas a essa abordagem tipológica . A própria idéia de “evolução” é posta em questão. Tal visão apóia-se na noção de “progresso”, entretanto é possível que um tipo de sociedade nunca chegue ao estágio subseqüente de progresso, portanto não podendo ser considerada um “estágio” na trajetória em direção ao Estado. Madu Gaspar não conseguiu enquadrar os sambaquieiros como “Bando” e referiu-se à organização deles como “caso limite”. Alguns arqueólogos já os definiram como “Macro-bandos”. Atualmente a densidade demográfica e o nomadismo deixaram de ser o suporte de definição de bando. O limite entre sociedades simples e complexas é o surgimento de permanente hierarquia social. Não há, no entanto, consenso sobre a correlação direta entre o tratamento dado ao morto e o seu prestígio social. A suposta hierarquia incipiente dos sambaquieiros fica apenas como indícios de desigualdade social. Tampouco a sugerida existência de chefes na sociedade dos sambaquis pode ser afirmada. Caso limite ou não, o fato é que eles permaneceram os “Senhores do litoral brasileiro” por um longo período, o que é admirável.
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