O Primeiro Cinema
(Introdução de Arlindo Machado para o livro de Flavia Cesarino Costa)
Introdução de Arlindo Machado para o livro O primeiro Cinema de Flávia Cesarino Costa
Qual a data do nascimento do cinema?
Mais do que máquinas de projeção, imagens animadas e sessões públicas, ou ainda, pesquisas científicas de laboratório e investimentos na área industrial, a história do cinema deve incluir também um universo mais exótico de manifestações paraculturais tais como: mediunismo, fantasmagoria, espetáculos de massa, prestidigitadores de feiras e quermesses, o teatro ótico de Reynaud, fabricantes de brinquedos e adornos de mesa incluindo os charlatões.
As histórias pecam em promover os aspectos sócio-políticos particulares (concepção industrial de cinema), teorias científicas da percepção e aparelhos ou propaganda nacional-chauvinista que privilegia os inventores.
As técnicas são anteriores às que se podem datar cronologicamente. Estudos de cultura pré-histórica do período magdalenense revelam a existência de imagens gravadas em relevo na rocha ou sulcos pintados com diversas cores nas paredes de Altamira, Lascaux ou Font-de-Gaume. À medida que o observador caminha perante as figuras parietais, elas parecem se movimentar em relação a ele. Toda a caverna parece se agitar em imagens animadas dependendo da posição da luz. Os artistas do Paleolítico usavam instrumentos de pintor, mas tinham os olhos e mente do cineasta. “Nas entranhas da terra, eles construíam imagens que pareciam se mover, imagens que cortavam para ou dissolviam-se em outras imagens, imagens ainda que podiam desaparecer e reaparecer. Numa palavra, eles já faziam cinema underground”. (Wachtel, 1993:140).
Podem ser considerados o primeiro cinema: A Câmera obscura (mecanismo de produção de perspectiva), a decomposição/síntese do movimento, os espetáculos baseados na projeção de sombras. “A criação de mundos virtuais e materialização do imaginário perdem-se na noite do tempo”.
No Séc. X o matemático e astrônomo árabe Al Hazen: estudou procedimentos hoje chamados de cinematográficos. Platão na metáfora da caverna descreve o mecanismo imaginário da sala escura de projeção.e Lucrécio De natura rerum, em aproximadamente 50 a.C, construiu um dispositivo de análise/síntese do movimento que desfilando fotogramas em sala escura simulava o sonho.
É difícil: dizer portanto quando nasce e reconstituir sua história. Talvez nos primeiros 10 ou 15 anos que correspondem ao período imediatamente anterior ao enquadramento institucional do cinema.
Em seus primórdios o cinema reunia em sua base de celulóide: espetáculos, formas populares de cultura, circo, carnaval, pantomima, prestidigitação, lanterna mágica. Uma cultura popular, um mundo paralelo ao da cultura oficial onde havia cinismo, obcenidades, grossuras e ambigüidades sem escrúpulo de elevação espiritualista abstrata.
Em seu livro O Primeiro Cinema Flávia Cesarino Costa conta a história destas primeiras manifestações sem utilizar categorias de infantilidade ou ingenuidade. O que denomina primeiro cinema não é anterior ou inferior a conquistas técnicas, industriais, semióticas e estéticas. Ela aponta para a heterogeneidade do fato fílmico, ele é diferente.
COSTA, Flávia Cesarino. O primeiro Cinema. Rio de Janeiro:Azougue Editorial, 2005.
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