Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos II
(BOGDAN; R. C.; BIKLEN; S. K)
Capítulo III – Trabalho de campo (Parte I)
Este capítulo discorre sobre a especificidade do trabalho de campo que é a forma que a maioria dos investigadores qualitativos utiliza para coletar seus dados. No trabalho de campo o investigador passa muito tempo com seus sujeitos no território destes. Ali ele trabalha para conseguir a aceitação dos sujeitos para poder prosseguir com os objetivos da investigação. Os autores subdividem o capítulo em tópicos que dão uma direção para quem precisa fazer trabalho de campo, a saber:
Como obter acesso ao campo
Segundo os autores, os investigadores qualitativos quando vão fazer o trabalho de campo podem seguir duas direções: ou fazem investigação dissimulada ou objetiva. Na dissimulada a coleta dos dados é feita sem o consentimento dos sujeitos e na objetiva o investigador explicita seus interesses na tentativa que os sujeitos cooperem com seu trabalho. Os autores aconselham os iniciantes a utilizarem a abordagem objetiva. Mas acredito que, por uma questão de ética, a abordagem dissimulada não deveria ser utilizada, pois trabalhar num ambiente usando de falsidade com os sujeitos é muito desconcertante. Os próprios autores dizem que alguns autores acreditam que a mentira pode abalar a relação investigador-sujeito, se tornando um empecilho ao desenvolvimento da pesquisa.
Os autores também abordam nesse tópico questões relacionadas à autorização para entrar no ambiente de trabalho. É importante obter informações que levem o pesquisador a procurar as vias corretas de obtenção dessa autorização. Porque não basta o aval do chefe (diretor, presidente, etc.). É necessário que se obtenha autorização daqueles com quem o investigador irá trabalhar mais de perto. Concordo com eles nesse sentido, pois de nada adianta, por exemplo, o diretor da escola dar a autorização se o professor – o sujeito da pesquisa – não sabe o que está acontecendo ou não se sente à vontade com a presença do pesquisador e acaba não colaborando devidamente com este.
Os autores ainda trazem uma série de questões, com suas devidas respostas, as quais poderão ser colocadas pelos sujeitos no decurso da investigação. A saber:
O que é que vai fazer exatamente? Resposta: Seja honesto.
Irá causar perturbação? Resposta: Diga que não pretende ser intrusivo e interferir no trabalho deles.
O que é que vai fazer com os resultados? Resposta: Assegure que as identidades serão preservadas e que nada será usado sem antes ter passado por uma leitura conjunta com eles.
Por que nós? Resposta: A resposta que os autores dão a essa pergunta soa um pouco como uma tentativa de agradar os sujeitos para que eles se sintam felizes em estarem ajudando. Concordo com isso, mas penso que o importante é que o investigador seja honesto, mas que tenha cuidado para não ferir o ego dos sujeitos, pois pode acabar com a relação entre eles.
Quais são os benefícios do estudo? Resposta: Diga o que espera, mas não prometa o que não tem certeza de que vai obter.
Os primeiros dias no campo de investigação
Nos primeiros dias do trabalho de campo a relação entre investigador e sujeitos começa a se estabelecer e os sujeitos tendem a ficar mais à vontade. O investigador fica confuso com a quantidade de informações novas. Aqui os autores dão algumas sugestões para tornar os primeiros contatos menos dolorosos:
· Não interprete o que acontece como uma ofensa pessoal;
· Na 1ª visita tente encontrar alguém que o apresente;
· Não tente fazer demais;
· Mantenha-se relativamente passivo. Não faça muitas perguntas;
· Seja amigável.
O contínuo participante/observador
O tópico começa com uma questão importante: “Até que ponto e de que forma é que os investigadores devem participar nas atividades da instituição?”. Os autores citam Gold quando dizem que existem várias possibilidades de participação do investigador, mas nos extremos estão o investigador completo e o indígena. O completo não participa das atividades do local em que está desenvolvendo seu estudo, ao passo que o indígena fica tão envolvido e ativo com seus sujeitos que perde as suas intenções iniciais. É necessário calcular a quantidade correta de participação e essas questões vão surgindo à medida que o trabalho se desenvolve. A meu ver é necessário um envolvimento tal que os sujeitos confiem e possam pedir ajuda ao investigador quando for necessário, mas que este não se torne uma espécie de escravo dos seus pesquisados, se sujeitando a qualquer tipo de exploração como forma de obter os dados de que necessita. Também a amizade entre o investigador e seus sujeitos deve existir, mas sem exageros. Os autores dizem que é saudável, inclusive, ir ao cinema com os sujeitos, pois, embora possa não produzir dados nesse momento é uma forma de desenvolver a relação entre ambos.
Os autores ainda trazem alguns conselhos sobre essa questão:
Seja discreto: A forma como o investigador se veste pode influenciar na interação entre ele e as pessoas do meio em que vai trabalhar.
Contextos educativos em conflito: É importante se manter neutro em caso de debates e discórdias entre os membros da organização.
Sentimentos: Os sentimentos do investigador podem constituir um importante indicador dos sentimentos dos sujeitos sobre um determinado acontecimento.Quanto tempo deve durar uma sessão de observação?: As sessões devem se limitar a um hora ou menos, mas à medida que a confiança e os conhecimentos crescem esse tempo deve aumentar.
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