O poder da oratória
(Marco Cruz)
Segundo Gabriel Soares de Sousa: “os tupinambá apreciavam altamente os conhecimentos musicais e os dons oratórios de uma pessoa”. Os músicos e oradores alcançavam mesmo, o direito de trânsito livre”. A capacidade discursiva, entretanto, parece ter merecido maior reputação.Os grandes oradores eram chamados “Senhores da fala” e tornavam-se os líderes eventuais das grandes ações coletivas. Ouviam-nos com prazer, durante uma noite inteira e adotavam com facilidade os pontos de vista ou as decisões por eles enunciados. Segundo Florestan Fernandes a seleção dos oradores se processava com certo rigor, pois formavam grupos de discussão, cujos membros procuravam derrotar os pretendentes. Anchieta também escreveu: “E para experimentar se é bom língua ou eloqüente, se põem muitos com ele toda uma noite para vencer e cansar e se não o fazem, o têm por grande homem e língua.” Cardim, afirma que essas provas podiam prolongar-se até por dois ou três dias. O “Senhor da fala” em sua mão tem a morte e a vida, e os levará por onde quiser sem contradição. Abbeville diz que o cacique do grupo Maioba era “um bom velho, e grande discursador”. Montoya afirma que os chefes guaranis eram obedecidos e acatados pelos demais por meio de conselhos e que isto provavelmente também ocorresse entre os tupinambá. O poder do chefe, entretanto era limitado. Cabia-lhe ao cair da tarde fazer um discurso audível a todos ao redor os quais continuavam com seus afazeres como se não estivessem prestando atenção, mas estavam. O chefe discursava sobre os feitos heróicos de seus antepassados e outras proezas da etnia. Ele deveria estar sempre disposto a ajudar a todos e ter sempre alguma coisa para emprestar ou presentear. Pierre Clastres observa que “o chefe que banca o chefe era destituído”. Os Conselhos de chefes eram realizados todas as noites na Casa Grande do centro da aldeia. Depois de aceso um grande fogo e começarem a fumar para relaxar e buscar inspiração armam suas redes de algodão, e, deitados, cada qual com seu cachimbo na mão, principiam a discursar, comentando o que se passou durante o dia e lembrando o que lhes cabe fazer no dia seguinte a favor da paz ou da guerra, ou para qualquer outro negócio urgente. O que resolvem de acordo com as instruções do principal normalmente é seguido à risca. Os simples ouvintes assentam-se de cócoras, em torno dos chefes. A opinião dos velhos era respeitada. As regras de polidez obrigavam aos gerontes a expor seus pontos de vista sem tumulto e cada um por sua vez. Um orador se propunha a tomar a palavra quando o antecessor desse por terminada sua intervenção. Apesar disso parece que nem sempre as discussões eram serenas. A discussões de caráter militar procuravam as razões profundas de tal empreitada. Evreux, fala do importante cacique caeté, Arraia-grande como “valente,bom conselheiro, e de tal influência que conseguiu com seu prestígio neutralizar os boatos de que os franceses tencionavam escravizar os tupinambá.” Gabriel Soares é que afirma: “ porque entre eles não há segredos”. Tupi.
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