Antropologia tupi
(Marco Cruz)
Costumes – a saudação lacrimosa dos tupinambás
Gabriel Soares de Souza em seu “Tratado Descritivo do Brasil”, relatou que indivíduos pertencentes a tribos diferentes costumavam aventurar-se ao pedido de hospedagem em grupos desconhecidos.
O peregrino entrava na aldeia dirigindo-se diretamente até a maloca do cacique, sem nada dizer a ninguém. Davam-lhe comida e, após a refeição, desenrolava-se o cerimonial de recepção: O cacique mandava erguer uma rede para o desconhecido e, após conferenciar com ele, vagarosamente outros vinham dar-lhes as boas-vindas querendo ouvir as boas novas. No dia seguinte, ocorria a reunião dos chefes e velhos em conselho, decidindo se o “forasteiro” vem de bom título ou não. De acordo com o que decidiam, sairia ou não o hóspede com vida.
Jean de Léry relatou sua experiência pessoal numa aldeia tupinambá em seu célebre livro “Viagem à terra do Brasil”: [...] quando ali entrei vi-me logo cercado por inúmeros selvagens que me perguntavam como me chamava [eu estava com um intérprete]. Um deles tomou então o meu chapéu e o pôs na cabeça; outro pegou na minha espada e cinto e os cingiu; outro me tirou o casaco e os vestiu; e todos me aturdiam com seus gritos. Depois de se divertirem bastante com os objetos alheios eles os devolviam. Léry, mais a frente prossegue: Entramos numa casa da aldeia onde, de acordo com o costume da terra nos sentamos cada qual em sua rede. [...] Em seguida reúnem-se as mulheres em torno da rede, acocoradas no chão põem as mãos nos olhos e pranteiam as boas-vindas ao hóspede dizendo mil coisas em seu louvor como por exemplo: “Tivestes tanto trabalho em vir ver-nos. És bom , És valente”[...] E acrescentam: _ “Trouxestes coisas muito bonitas que não temos em nossa terra”. Para responder deve o recém-chegado mostrar-se choroso também, ou, ao menos fingi-lo com profundos suspiros. Terminada a primeira saudação festiva o anfitrião, que durante todo esse tempo permaneceu sossegado num canto da casa a fazer flechas, dirá sem parecer avistar-nos [costume bem diverso dos nossos, cheios de mesuras, abraços, beijos e apertos de mão]: -Erejubê, isto é, “viestes, como estás. Que desejas?” Depois disso, perguntará se queremos comer, mandando logo vir uma vasilha de barro com farinha, aves, peixes e outros manjares. Tudo é servido no chão raso. Em seguida voltam as mulheres com frutos e objetos da terra, a fim de trocá-los por espelhos, pentes e miçangas.
Em outra aldeia, Jean de Léry passou a noite rezando enquanto os índios festejavam a matança de um prisioneiro dançando e assobiando [... ] eis que, de repente um dos convivas traz-me na mão um pé assado e moqueado da vítima e se aproxima de mim, perguntando se desejava comer.
Já o relato do Padre Fernão Cardin acrescenta alguns detalhes explicando que as mulheres ficam com “os cabelos baixos tocando a mão na pessoa...; choram em altas vozes com grande abundância de lágrimas”. Cardin ainda destaca: [...] e ali contam em prosas trovadas quantas coisas têm acontecido desde que não se viram e que pode provocar lástima e o choro[...] Cardin afirma que tudo fazem sem segundos interesses.
Tupi.
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