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Ali Kamel: discípulo medíocre de Gilberto Freyre (parte II)
(Renato Prata Biar)

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Para alguém que se sente tão capacitado
para fazer críticas aos livros de história, o Sr Kamel parece que esqueceu
completamente que o Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão
e que esse sistema durou quase quatro séculos por aqui. Parece ignorar também
que o Movimento Abolicionista brasileiro, embora tenha tido seus méritos,
cometeu um gravíssimo erro que foi o de lutar apenas pela abolição, deixando de
lado a luta pela integração do negro livre na nova organização da sociedade. Nesse
sentido, o negro ou continuou escravizado ou foi libertado para ter o direito
de morrer por conta própria, já que grande parte do trabalho escravo já vinha
sendo substituído, desde a metade do século XIX, pelos imigrantes europeus e
até mesmo asiáticos, como o caso dos chineses, por exemplo. As conseqüências
disso foram o acirramento na marginalização do negro e de suas culturas como a
capoeira, a música, sua religião e basicamente qualquer outro tipo de cultura
que tivesse suas raízes na África. Mas parece que todo esse preconceito criado
e alimentado não só no seio da sociedade, mas também pelas próprias
instituições públicas como a escola, a polícia e também a Igreja Católica
durante todos esses anos, simplesmente desapareceu como num passe de mágica. Na
visão do Sr Ali Kamel, nós, hoje em dia, vivemos a maravilha de uma sociedade
completamente despida de preconceitos em relação ao negro.



Pois bem, já que não existe racismo no
Brasil, esse medíocre discípulo de Gilberto Freyre poderia tentar explicar, por
exemplo, por que nunca existiu em nenhum dos diversos telejornais da emissora
para a qual trabalha, um apresentador negro que fosse fixo (chamado de
âncora), e não apenas alguém que cobre
as folgas de seus respectivos colegas brancos. Ou, melhor ainda, um casal de
negros apresentando o Jornal Nacional como o “belo” casal Willian Bonner e
Fátima Bernardes. Já que vivemos numa sociedade que reconhece as pessoas apenas
pelos seus méritos, será que até hoje nenhum negro conseguiu ter méritos suficientes
para alcançar essa posição? O Sr Kamel poderia tentar explicar também por que
nas inúmeras telenovelas exibidas pela Rede Globo, durante todos esses anos, os
atores negros têm quase sempre o mesmo papel: empregadas domésticas, bandidos,
presidiários, escravos, morador de favela, traficantes, etc. Prova disso é o
caso da atriz Zezé Motta que já declarou em diversas entrevistas que desistiu
de fazer novelas exatamente por lhe oferecerem sempre os mesmos papéis:
empregada doméstica ou escrava em novelas de época. Outra coisa interessante na
maioria das novelas é que sempre que tem um personagem interpretado por um ator
negro ele dificilmente tem família: ou é adotado, ou mora com amigos ou
simplesmente surge do nada (a novela Malhação é um exemplo disso). Isso para
não falar que na primeira novela em que houve uma atriz negra como protagonista
(Taís Araújo), o título foi muito sugestivo: Da cor do Pecado (seria o branco a
cor da pureza?).



Portanto, a resposta para todas essas
perguntas é simples: o que o Sr Ali Kamel tenta esconder, como um bom
representante da elite branca do Brasil, é que a sociedade brasileira foi
formada e deformada, em muitos de seus aspectos, pelo sistema escravista e suas
raízes que se perpetuam até os dias de hoje. E seja através do uso de uma
linguagem esotérica como a utilizada por Gilberto Freyre para sustentar a
existência de uma “Democracia Racial no Brasil”, ou pelo uso de uma linguagem
xucra como a utilizada por Ali Kamel para sustentar a existência de um “barato
brasileiro da miscigenação”; ambos não passam de métodos e estratégias para se
camuflar e naturalizar uma situação de desigualdade e preconceito para que tal
ordem não só continue a se reproduzir e se legitimar, como também para tentar
frear qualquer iniciativa, seja de governos ou da própria sociedade organizada,
de compensar todas essas injustiças e covardias sobre esses que foram, durante
séculos, o pilar de sustentação de toda uma sociedade e sua principal fonte de
riqueza.





Renato Prata Biar; historiador; Rio de
Janeiro; RJ



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