[Parte 1/3] Estudo completo do livro "O crime de padre Amaro" de Eça de Queirós
(Rafael Mira)
QUEIRÓS, Eça de. O Crime do Padre Amaro. São Paulo: Editora Ática, 1984.
Publicada pela primeira vez em 1875, essa obra é, sem sombra de dúvidas, a mais polêmica de todas as escritas por Eça de Queirós. É também, uma das mais famosas, pois trata do comportamento nocivo e corrupto não só dos padres, mas do clero em geral. Além disso, nesse romance, percebe-se, claramente, o combate aos valores éticos e morais vigentes na sociedade portuguesa da época, que eram considerados como fundamentais para as pessoas e famílias de bem. Como se observa essa obra não tem simplesmente a intenção de contar a história amorosa de Amaro e Amélia. Muito pelo contrário, seu objetivo é analisar o comportamento dominador e corrupto do clero e do Governo sobre a atrasada e hipócrita sociedade portuguesa da época, encontrar os motivos da decadência dessa mesma sociedade e provar que os indivíduos que a compõem são vítimas desse sistema injusto e cruel, foi contemporâneo à segunda Revolução Industrial. ”As velhas amigas estavam já na sala de jantar. Ao pé do candeeiro de petróleo, Amélia costurava.” (p.50)
A obra se baseia na história amorosa de um jovem padre, que usa da sua posição de prestígio na sociedade portuguesa para realizar seus desejos. Acaba conhecendo uma jovem, chamada Amélia, e se apaixona por ela, o que não era permitido na sociedade.
Essa trama é contada pelo principal exemplo de narrador do realismo-naturalismo, o narrador em 3ª pessoa, consciente e onipresente, ou seja, que não participa da história, mas sabe tudo que acontece com os personagens e seus sentimentos. “Foi no domingo de Páscoa que se soube em Leiria, que o pároco da Sé, José Miguéis, tinha morrido de madrugada com uma apoplexia.” (p.13) Nesta obra, também aparece alguns textos em 1ª pessoa, como as cartas trocadas entre alguns personagens.
[...] Se tu soubesses como eu te quero querida Ameliazinha, que até às vezes me parece que te podia comer aos bocadinhos! Responde, pois e dize se não te parece que poderia arranjar-se a vermo-nos na Morena/, pela tarde. Pois eu anseio por te exprimir todo o fogo que me abrasa, bem como falar-te de coisas importantes, e sentir na minha mão a tua que eu desejo que me guie pelo caminho do amor, até aos êxtases duma felicidade celestial. Adeus, anjo feiticeiro, recebe a oferta do coração do teu amante e pai espiritual, Amaro. (p.93)
As personagens principais se dividem em protagonistas e antagonistas, as protagonistas, ou seja, que fazem a história acontecer, e as antagonistas que tentam impedir a história, no caso o romance de Amélia com Amaro. As protagonistas são o padre Amaro e a Amélia. Amaro, jovem nascido na cidade de Lisboa, filho de um casal de criados da Marquesa de Alegros, que virou órfão aos seis anos e foi adotado pela Marquesa, que o educou em casa, e acabou medroso, preguiçoso e acostumado com a vida eclesiástica.
Amaro era como diziam os criados, um mosquinha-morta. Nunca brincava, nunca pulava ao sol. Se à tarde acompanhava a senhora marquesa às alamedas da quinta, quando ela descia pelo braço do padre Liset ou do respeitoso procurador Freitas, ia a seu lado, mono, muito encolhido, torcendo com as mãos úmidas o forro das algibeiras, - vagamente assustado das espessuras de arvoredos e do vigor das relvas altas. (p.23)
Também era bonito, forte, de pele trigueira, cabelos pretos, robusto e simpático. “Os ares lavados e vivos da serra tinham- lhe fortificado o sangue; voltava robusto, direito, simpático, com uma boa cor na pele trigueira.” (p.28)
Amélia, filha de S. Joaneira, foi educada num meio clerical, é jovem, morena, tinha seios bonitos, pescoço branco e cheio, também era simpática, e seu nome reflete “mel”, uma coisa doce. “Tinha um vestido azul muito justo ao seio bonito; o pescoço branco e cheio saía dum colarinho voltado; entre os beiços vermelhos e frescos o esmalte dos dentes brilhava; e pareceu ao pároco que um buçozinho lhe punha aos cantos da boca uma sombra sutil e doce.” (p.38-39)
Outras personagens importantes são o Cônego Dias e a S. Joaneira, que ambos tinham um caso amoroso, mantinham relações sexuais e foram flagrados por Amaro, que acabou o influenciando no romance. Cônego dias era gordo, relaxado, e só se preocupava em manter sua posição na igreja.
O cônego Dias era muito conhecido em Leiria. Ultimamente engordara, o ventre saliente enchia-lhe a batina e a sua cabecinha grisalha, as olheiras papudas, o beiço espesso fazia lembrar velhas anedotas de frades lascivos e glutões. (p.18-19).
Também havia a S. Joaneira, mão de Amélia, era gorda, alta, muito branca, de cabelos arrepiados, era muito beata e sua casa era muito freqüentada por membros do clero.
Era gorda, alta, muito branca, de aspecto pachorrento. Os seus olhos pretos tinham já em redor a pele engelhada; os cabelos arrepiados, com um enfeite escarlate, eram já raros aos cantos da testa e no começo da risca; mas percebiam-se uns braços rechonchudos, um colo copioso e roupas asseadas. (P.25)
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