Cartas Marcadas
(Paulo Araujo)
Cartas Marcadas é o livro de estréia do jornalista Paulo Araujo, publicado em 2007, pela Booklink Publicações. Idealizado em 2002, como roteiro para um longa-metragem, o autor resolveu transformar o roteiro em romance no início de 2005 quando despontavam os primeiros indícios de uma crise política que consumiria o país e pensou por que não colocar a ficção dentro da realidade como se os personagens da trama interagissem no cenário político que invadia a mídia numa velocidade estonteante? Alguns personagens fictícios foram baseados em personalidades do mundo real, enquanto que outros, bastante reais, foram trazidos pela enxurrada de denúncias que tomou conta do país durante mais de seis meses. Vitor e Murilo, amigos de infância, vêm a São Paulo tentar a sorte e tomam caminhos diferentes. Murilo, um homem simples e sem estudo casa-se com Tereza, negra e também pobre. Vitor faz engenharia eletrônica e começa a montar computadores em casa até fundar a Adventure Informática. Casa-se com Jordana, filha de um poderoso industrial e aumenta ainda mais sua fortuna. A amizade dos dois continua, mas sem o conhecimento das famílias. Disposto a fazer o amigo sentir-se rico por um dia Vitor troca de roupas e de carros com ele. À noite Murilo é seqüestrado por engano enquanto Vitor sofre um assalto na estrada da Cantareira, é ferido no pé e atirado em um barranco. Alemão, o autor do disparo, ordena ao seu capanga que desça e complete o serviço. Mariana, filha de Murilo, vestindo roupas masculinas e com o rosto encoberto, desce aflita tentando entender o que faz aquele homem com as roupas e a perua velha do seu pai. Os dois encontram buscam abrigo numa casa em construção. Mariana seduz Vitor e eles transam no colchão sobre o chão rústico. É a primeira vez que ele tem um caso fora do casamento e, para sua própria surpresa, com uma moça negra e pobre. O seqüestro inusitado é o fio condutor que liga uma família rica dos Jardins a outra, pobre, da Zona Leste de São Paulo. Durante o longo período de cativeiro, Vitor e Mariana tentam libertar o amigo antes que os seqüestradores descubram o mico que têm nas mãos. Como num jogo de cartas marcadas, os personagens agem movidos pela trama inesperada. A cada página a realidade da periferia se mistura ao mundo luxuoso da alta burguesia paulistana, no ritmo alucinante do hip-hop. As tramas paralelas são o ponto forte do livro e envolvem os personagens nos mais variados conflitos envolvendo corrupção, drogas, luxo, sexo, ciúmes e traições. Mariana envolve-se com o filho de Vitor, o que provoca a ira de Jordana e o ciúme de Vitor, já desgastado por achar que Jordana também o está traindo com Freitas, seu ex-sócio na Adventure. Os conflitos também acontecem entre os membros da quadrilha formada às pressas por Alemão e quem acaba sofrendo com isso é Murilo, o refém. Os acontecimentos que fazem o pano de fundo concentram-se em Freitas, Almeida, seu lobista encastelado em Brasília, e um deputado da base aliada e desnudam as relações nada éticas do setor privado com determinados representantes do governo, mas não se resumem à política. Com um olho clínico e bastante ironia o autor vasculha os estilos de vida que mesclam problemas da periferia com o glamour da alta burguesia paulistana e mostra que esses dois mundos aparentemente distantes têm cada qual sua parcela de contribuição para a violência urbana e demais mazelas que extrapolam os grandes centros e se espalham pelo país. O resultado é uma narrativa eletrizante, com os acontecimentos se sucedendo de forma ininterrupta até o desfecho surpreendente.
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