O incômodo em Nelson Rodrigues
(DOUGLAS RODARTE)
O incômodo em Nelson Rodrigues no conto ´O monstro´ “A vida como ela é” traz histórias dos melhores contos de
Nelson Rodrigues, o maior dramaturgo brasileiro de todos os tempos.
Histórias de amor, mistério, traição e humor que recriam o universo
rodrigueano em quarenta episódios. Mulheres insaciáveis, maridos
traídos, ninfetas sensuais: os irmotais personagens de Nelson voltam
nesta série antológica, premiada no Brasil e no mundo.
O universo de Nelson Rodrigues em “A Vida Como Ela é”
tem uma visão obscena e conservadora, machista e sensível, dramática e
bem - humorada e, acima de tudo, contraditória. Afinal, esse é um pouco
de Nelson Rodrigues.
Estamos em 2008 e nos
parece que Nelson ressoa nos ouvidos de muita gente. Isso porque nele,
o incômodo se mostra na não aceitação e na indisposição de assumir que
enfrentamos os mesmos dramas na vida mostrados no teatro-literatura de
Nelson.
A tarde QUARTA-FEIRA (14.3.2008) abriu com Arnaldo Jabor no Jornal Hoje, no quadro ´mulher de hoje´.
Não sei se ele começa ou termina com a nossa tarde! Jabor é Nelson: sua
visão é fria, quase inópita. Suas elocubrações sobre sobre as neuroses
clássicas: carência, ciúmes, rejeição etc. , nos encostam na parede.
Ouvimos Jabor e ficamos sem graça, sem resposta.
Muito melhor não tê-lo visto
(muitos pensam). Jabor e Nelson são duas metáforas intragáveis.
Precisam ser desconstruídos, ´lidos´ nas entrelinhas. O poeta gaúcho
Quintana afirma que ´O difícil, mesmo, é a arte de desler!´.
Essa é a tarefa de maior porte quando nos encontramos com estes dois.
Explico melhor: Hoje, Jabor acelerou sobre o problema da relação entre
homem e mulher e afirma que a base fundamental , o ponto fucral do
problema é o ´medo´.
Em suas palavras ´hoje, temos medo de amar e de sermos amados´. ´O amor dura quanto…´, ´o tempo de um desejo ou de um ardor sexual…
Essas perguntas são desconcertantes, pois não temos respostas fáceis. Sua carga reflexiva leva consigo o mote da ´moralidade escondida´. A religião, em Nelson e em Jabor, esconde o fetiche e faz aflorar os desejos e as mais diversas idiossincrasias.
O absurdo, o louco preenche o lugar da sanidade e da personalidade ´normal´ e ´aceitável´ à sociedade.
Nelson vê exatamente a mesma coisa. No primeiro conto que abre a série de 40 casos de ´A vida como ela é´ ´O mostro´,
nos remete para um mundo muito próximo de todos. Em suma, Maneco
(protagonista) assedia a cunhada Sandra (vítima para a sociedade) . O
pai de Sandra para não descer da postura patriarcal do Rio de Janeiro
de então, esbofeteia Bezerra até sangrá-lo e Sandra o interromper
chamando-o em particular, deixando o caído às vistas de todos.
O velho Guedes (pai de Sandra) revelado ali
como moralista, modelo, âncora respeitosa da família é pressionado por
Sandra a deixar o rapaz em paz. A contrapartida é não entregar o Velho
Guedes: contar pra todos que ele traía a esposa, que é um libertino e
fanfarrão.
Neste universo, Nelson Rodrigues mostra um
personagem muito humano: casado, amarrado aos mais diversos laços de
família e que tem segredos com a cunhada e um pai que perde a
autoridade perante a filha porque foi descoberto. Essa His ou Estória
se parece com alguma que você conhece…
A mulher de Maneco após ouvir o marido
promíscuo desmentir o ocorrido do amigo, ela o beija taradamente e diz:
´sabes, que eu gosto deste seu cinismo!´.
Nelson mostra a cara do homem ´normal´ e
´pecador´ que vive por amor com a irmã e é tarado pela cunhada e que
pensa todo dia: ´o que é uma cunhada. Uma cunhada não é uma irmã!´.
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