Continuamos na Pré-história
(Renato Prata Biar)
Escreva seu resumo aqui..Continuamos na Pré-história É
lamentável como o homem hodierno parece ter se transformado num simples
apêndice de um sistema que ele próprio criou. Apesar de todo o
desenvolvimento tecnológico, da capacidade produtiva, do avanço na
ciência, dentre tantas outras coisas, estamos cada vez mais distantes
um do outro e, mais distantes também, de realizar aquelas promessas de
igualdade, liberdade e fraternidade que, surgidas com a Revolução
Francesa, há tempos já se percebe que não passaram de falsas promessas,
de um grande engodo para sustentar uma esperança e consolidar uma ordem
que é responsável pela redução do homem à condição de mera mercadoria e
de alienado do produto do seu próprio trabalho. Como disse H. Marcuse
em seu livro, Eros e Civilização: “Em
troca dos artigos que enriquecem a vida deles, os indivíduos vendem não
só o seu trabalho, mas também seu tempo livre. A vida melhor é contra
balançada pelo controle total sobre a vida. As pessoas residem em
concentrações habitacionais – e possuem automóveis particulares, com os
quais já não podem escapar para um mundo diferente. Têm gigantescas
geladeiras repletas de alimentos congelados. Têm dúzias de jornais e
revistas que esposam os mesmos ideais. Dispõem de inúmeras opções e
inúmeros inventos que são todos da mesma espécie, que as mantêm
ocupadas e distraem sua atenção do verdadeiro problema – que é a
consciência de que poderiam trabalhar menos e determinar suas próprias
necessidades e satisfações.” Em
troca da “liberdade” para consumir mercadorias inúteis e supérfluas
que, exatamente por terem essas características nos levam a um ciclo
vicioso de consumo que nunca se satisfaz (já que consumir sempre o mais
do mesmo é a lógica desse sistema); vendemos a nossa autonomia e a
nossa verdadeira liberdade. A lógica do Ter para Ser,
passa da condição de uma ordem heteronômico para a condição de algo
natural e inexorável, em que o indivíduo passa a enxergar a sua
realização e sua felicidade cada vez mais dependente da sua capacidade
de adquirir essas mercadorias. O preço a ser pago por isso é a renúncia
da sua subjetividade e de sua individualidade para se tornar uma
mercadoria atraente às necessidades do Mercado e conseguir condições de
ser inserido nesse padrão de comportamento. Aliás, necessidades essas
que se tornam cada dia mais exigentes e rígidas, pois devido ao
desenvolvimento tecnológico, a demanda por força de trabalho diminui
cada vez mais, acirrando a competitividade entre os trabalhadores e
reforçando a ideologia do darwinismo social em que o mais apto e o mais
forte, através do mérito, irá prevalecer sobre os demais membros da
sociedade. Mantendo
a maior parte das pessoas ocupadas e preocupadas em conseguir suprir
suas necessidades mais básicas de sobrevivência (como: comer, morar,
vestir, etc.), a lógica capitalista não deixa, como dizia Marx, que o
homem saia da Pré-história. Quase todo o seu tempo é gasto com o seu
trabalho (que lhe garante apenas o mínimo para sobreviver e reproduzir
sua força de trabalho) e com suas necessidades físicas como, o sono e a
alimentação, além do tempo gasto no deslocamento para o local do seu
emprego. Mas é importante lembrar que esse estado miserável a que o
homem está submetido, é de suma importância para que se mantenha uma
condição de dominação exercida pela minoria que detêm a propriedade
privada dos meios de produção, contra aqueles que possuem apenas o seu
corpo e a sua força física para sobreviver. A miséria é, portanto,
condição sine qua non para a manutenção, reprodução e perpetuação do status quo,
já que o homem com tempo e estrutura para pensar, refletir e decidir
sobre suas reais necessidades e condições é uma ameaça à
infra-estrutura do sistema vigente. Mais uma vez citando H. Marcuse: “O passado define o presente porque a humanidade ainda não dominou a sua própria história.” Portanto,
enquanto as forças produtivas (o próprio homem, as máquinas, a terra,
etc.) ainda estiverem voltadas para a produção de bens e serviços
supérfluos e/ou destrutivos (a guerra é um bom exemplo da produção
usada na destruição, já que somente os Estados Unidos gastaram, de 2001
até 2007, mais de meio trilhão de dólares em novos armamentos e na
manutenção da guerra contra o Iraque), estaremos fadados a continuar na
Pré-história e impedidos de construir algo realmente novo e justo. Algo
que dê verdadeiras garantias e segurança ao direito à vida, para que o
homem ouse tomar as rédeas da sua própria história e permita-se,
finalmente, conhecer-se a si próprio. Renato Prata Biar; historiador; Rio de Janeiro; RJ
Resumos Relacionados
- O CarÁter Fetichista Da Mercadoria E Seu Segredo
- Marxismo
- A Filosofia De Marx
- Existencialismo
- O Surgimento Da Exclusao
|
|