Quando Nietzsche Chorou
(Irvin D. Yalom)
Em uma reunião na casa de Freud, em 1907, a poetisa Lou-Andreas Salomé sugeriu que para aquela ocasião, se discutisse o livro Ecce Homo , de Friedrich Nietzsche. Curiosamente, a reação de Freud foi a de evitar tal leitura, e se justificou. As idéias de Nietzsche se parecem muito com os pontos centrais da psicanálise e Freud se defendeu: "não quero ser influenciado!" No romance "Quando Nietzsche Chorou". o romancista Irvin D. Yalom explorou estas proximidades entre a filosofia de Nietzsche e a psicanálise, ao fazer do filósofo um paciente do Dr. Breuer, verdadeiramente, ao lado de Freud, um dos pais da psicanálise. O mérito deste romance consiste em brincar de ficção com assuntos que se misturam à biografia de Nietzsche, lançando mão, algumas vezes, de cartas que foram trocadas entre os personagens que envolvem a trama. Nietzsche escreveu em Além do Bem e do Mal: "Em tempos de paz, o homem guerreiro faz guerra contra sim mesmo". Não teria aí uma tese fundamental da pulsão que move guerreiro? Nietzsche tratou do tema da castração em suas obras, veja-se Para uma genealogia da moral , quando nos faz observar que a história do Ocidente se confunde com a história da domesticação do homem, com a castração dos instintos pelo sentimento cristão de culpa. Interessante notar que o conceito mais basilar da psicanálise é precisamente o conceito de recalque. Teriam os pais da psicanálise captado o espírito de seu tempo ou dialogado com a obra de Nietzsche. Irvin Yalom, em Quando Nietzsche Chorou, brinca excepcionalmente com estas questões, que se elucidam na construção da leitura pelo próprio leitor. Eis um livro que é capaz de prender a leitura e motivar uma profunda reflexão sobre estes personagens reais de nossa cultura.
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