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As Intermitências da Morte
(José Saramago)

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 A morte subitamente deixou de matar. A partir da meia noite do último dia do ano a morte suspendeu seus trabalhos por prazo indeterminado, que deixou os habitantes daquele país de dez milhões de habitantes felizes com a eternidade na terra. Porém, não tardou para que começassem os problemas. Todos perceberam o drama que é não morrer, ao ver a situação de pessoas que gostariam mas não podiam, porque a morte estava ausente, como o caso da Rainha Mãe que estava moribunda.

O serviço de saúde entraria em colapso, porque as pessoas que morrem ocupavam o lugar de pacientes que precisam ser tratados. A aposentadoria rapidamente se tornaria inviável, porque os idosos continuariam recebendo seus benefícios indefinidamente, assim como os jovens envelheceriam para também recebê-los. Essas situações aumentariam os problemas sociais e gerariam outros econômicos, que se alastrariam para setores específicos, como o das empresas funerárias e as seguradoras. As funerárias sem mortos iriam a bancarrota. Por meio de entidade representativa se mobilizaram e exigiram do governo que obrigassem as pessoas a enterrarem seus animais de estimação. As empresas de seguro de vida também teriam problemas e rapidamente propuseram que as pessoas fossem declaradas mortas aos 80 anos.

Mas o principal problema era das pessoas que gostariam de morrer.  Finalmente uma família de agricultores cruzou a fronteira, levando avô, que desejava morrer, para que pudesse morrer. Esse exemplo, inicialmente condenado pela moral e pelos bons costumes, foi seguido por outras famílias que assim podiam deixar seus mortos vivos morrerem. O governo não podia admitir essa situação publicamente, mas fez vistas grossas para a Máphia, que rapidamente se organizou para controlar o serviço.

Passados sete meses da ausência da morte, com todos os problemas se avolumando, ela se manifestou por meio de uma correspondência sigilosa entregue para o diretor geral da rede de televisão daquele país. Numa conversa com o Primeiro Ministro, ficou acertado que o Diretor Geral faria um pronunciamento às 21h, dizendo que a morte voltaria a trabalhar a partir da meia noite daquele dia. Todas as pessoas que estavam com a morte suspensa morreriam e as demais voltariam a morrer normalmente. Porém, a morte fez uma pequena alteração. Todos os candidatos a morte, receberiam uma correspondência com uma semana de antecedência, avisando o fatídico dia. A alegação da morte era justamente para ninguém fosse pego desprevenido, podendo ajustar contas, pedir perdão, encaminhar o inventário, entre outros procedimentos que muitos fariam se soubessem que estavam à beira da morte. Alguns assim o faziam, mas outros tentavam o suicídio ou se entregavam as festas. Mesmo com a tristeza daqueles que recebiam a carta de cor violeta, identificação da morte, tudo retomou a sua normalidade.

A morte, na sua forma de esqueleto, vestida com a sua capa preta, em sua sala fria e subterrânea, cumpria sua rotina de cartas, envelopes e despachos. Inesperadamente, sem nenhuma explicação uma de suas cartas retornou. A morte ficou surpresa, porque era impossível o destinatário não ser encontrado. Ela ficou intrigada, pois aquela pessoa já deveria estar morta há oito dias. Deveria ter morrido aos quarenta e nove anos e agora havia completado cinqüenta anos. Um problema a ser resolvido. A morte tomou sua forma etérea e foi conhecer o seu problema, até então único em toda sua existência de milhares de anos. Encontrou um músico de violoncelo, que morava sozinho, acompanhado de seu cachorro. A morte observou-o dormindo, levantando, ensaiando suas músicas e percebeu o quanto ela deveria ser dolorida para quem recebesse a carta cor violeta. Retornou a sua sala e tentou novamente enviar a carta. Depois tomou uma decisão. Iria entregá-la pessoalmente.

Numa rápida conversa com sua amiga, gadanha, disse-lhe que se ausentaria por uma semana e



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