Ressignificando a Psicologia do Desenvolvimento - uma contribuição crítica à Pesquisa da Infância
(Solange Jobim e Souza)
O destaque dado à Psicologia do Desenvolvimento no âmbito das ciências psicológicas tem um cunho social e uma estrutura profissional ligada a uma presença pública, visto estar sempre vinculada à sociedade em que se insere, refletindo suas contradições, tanto na organização interna, quanto em suas práticas. Formula os ideais para o desenvolvimento e acaba “enquadrando” crianças/adolescentes/adultos, participando da formação dos mesmos como sujeitos e como objetos. Não exerce tais influências de forma espontânea e autônoma: surge como uma resposta às representações, imaginação, desejos dos indivíduos e da coletividade, estabelecendo normas a serem seguidas para a formação das pessoas. Ela é a 1ª área que autoriza e legitima a construção de teorias e conceitos sobre os aspectos evolutivos da infância e da adolescência – faz parte das ciências do comportamento, que visam, objetivamente, observar as mudanças exibidas pelos indivíduos, ao longo de sua trajetória de vida. Na atualidade, no entanto, a questão que se tem colocado é: como conciliar o caráter ideológico desse campo do saber com o verdadeiro conhecimento, nas sociedades modernas, em uma época assolada por mudanças profundas no que se refere à imagem da infância e o modo como as pessoas vêm compreendendo e traçando seus próprios objetivos no que se refere ao “vir a ser” da criança no mundo. A noção do desenvolvimento humano passa a ser guiada por normas pedagógicas, fornecendo critérios para o sistema educacional agrupar as crianças, de acordo com a evolução de suas capacidades cognitivas e aptidões específicas. Na verdade, o que a autora procura demonstrar é que os currículos escolares passaram a incluir tarefas ligadas às noções de classificação, seriação, etc., fazendo com que o educador acredite que pode acelerar o desenvolvimento cognitivo das crianças, ensinando-lhes respostas corretas às situações-problemas. Para ela, tais reformulações retratam uma forma lógica de produção (principalmente na matemática), de acordo com a visão capitalista, que nos habituou a pensar a criança na perspectiva de um organismo em formação, que se desenvolve por etapas cronológicas, fragmentando-a em áreas ou setores do desenvolvimento, não vista por inteiro, como membro de uma classe social, histórica e cultural. Trata-se de uma concepção “adultocêntrica”, que inviabiliza a visão da criança como um sujeito “na” e “da” história. Sendo assim, acredita a autora que as teorias do desenvolvimento humano têm oferecido elementos necessários para a legitimação “científica” de um processo crescente de racionalização e institucionalização da infância e adolescência, já que as capacidades são “medidas” através de uma visão de experiência e competência da criança, uma “racionalidade técnica”, que “modela” a subjetividade, submetendo-a a um ideal de sujeito produtivo e consumidor da infância. E é a partir de tais concepções que as instituições organizadas para a educação infantil vêm atuando, ou seja, voltadas para o atendimento das exigências específicas feitas pelo mundo do trabalho. Portanto, infelizmente, tem sido a Psicologia do Desenvolvimento a fornecedora das “normas” reguladoras e disciplinares das trajetórias de vida, legitimando hábitos que formam o perfil do futuro consumidor, a serviço das necessidades da sociedade atual, de submissão do homem ao controle, adaptando-o pelas regras de consumo do mundo pós-industrial. Por esses tantos desvios, constata que se faz necessário que a Psicologia do Desenvolvimento construa uma nova identidade, voltada para uma outra forma de produzir conhecimento e que devolva ao homem, a sua condição de sujeito, redefinindo a questão da temporalidade humana que o capitalismo desconsidera, pois trata o tempo humano como se não fosse uma coisa unitária e impossibilita a integração da experiência vivida pelas pessoas, não levando em consideração a realidade temporal humana, interna. Também precisa realizar o resgate para o ser humano de seu caráter de sujeito social, histórico e cultural, como autor das transformações sociais. Por ser a linguagem uma característica do homem, a Psicologia do Desenvolvimento deve buscar o lugar social dessa linguagem na constituição do sujeito e das próprias teorias que investigam esse sujeito que fala. Ela é o local de produção de sentidos e o ponto para o qual, jogo, criatividade e pensamento crítico convergem: o caminho é o “sentido plural da palavra”, no encontro da linguagem com as possibilidades lúdicas que ela oferece, com compreensão de uma outra visão sobre o desenvolvimento integral da criança. O que propõe é uma mudança de ênfase: estimular na criança a habilidade de tolerar a ambivalência e de sintetizar contradições como incentivo para a possibilidade de criação de algo inteiramente novo – é falar de desenvolvimento como liberdade, ir ao encontro da linguagem como expressão criativa do ser, onde o sujeito não se anula e nem se desfaz Concluindo, esse é um dos principais motivos que a Psicologia do Desenvolvimento deve retomar, discutir, analisar o desenvolvimento integral da criança, tendo a linguagem e o jogo lúdico como parâmetros fundamentais para enfrentar e superar suas limitações, principalmente na relação entre a experiência estética e o desenvolvimento humano.
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