Brasil 1824
(Marco Cruz)
Ernst Ebel, em seu livro “O Rio de Janeiro e seus arredores em 1824 relatou: “O capitão acordou-me cedo, esta manhã, com um grito: terra! E, ao subir para o tombadilho, avistei no horizonte montanhas azuladas que se erguem no litoral brasileiro. Minha travessia até cá foi sem dúvida feliz; ventos sempre favoráveis, ou quase, e o tempo tão bonito que, por vezes, eu podia escrever à mesa, no convés, sem ser molhado pelas águas. Afora umas poucas baleias de tamanho médio – as chamadas Nordkapern – também conhecidas como “baleia branca”, cujo nome científico é balaena glacialis – e considerável número de bonitos, que nos seguiam aos bandos, entretendo-nos com seus saltos; vimos também com freqüência peixes-voadores, que se levantavam em cardumes. Se, por acaso, caíam sobre a ponte, comíamo-los fritos, ao pequeno almoço, pois têm um sabor delicado. Interessante fenômeno foi a fosforescência da água que me dava a impressão, na escuridão da noite, de nos movermos em mar de fogo. Chamas azuladas erguiam-se pelo costado do navio, deixando profunda e reluzente marola. Eu já tinha observado essa iluminação durante o inverno no litoral norueguês, mas por aqui ela é bem mais intensa. Segunda curiosidade me ocorreu entre os cinco e seis graus norte: ao soprar um forte nordeste, fomos surpreendidos pela correnteza que vinha de sudeste e nos desviou da rota umas 18 léguas para o noroeste em 24 horas. O mar todo rugia, levantando pequenas ondas como acontece na foz de um rio quando o vento é contrário. Deixo aos navegantes esclarecerem o fenômeno. Minha saúde conservou-se excelente, para o que muito contribuiu o banhar-me todas as manhãs numa tina d’água salgada. Às freqüentes observações da lua e das estrelas, devemos agradecer que, sem cronômetro a bordo, nossos cálculos de direção resultassem certos e chegássemos praticamente à vista do Cabo Frio à hora prevista. O batismo costumeiro foi solenemente festejado, mas, apesar do capitão e eu termos pago o nosso imposto, não escapamos a que do cesto da gávea nos mimoseassem com violento jorro d’água; bem mais brutal, porém, foi o que se passou com a tripulação. A gente do mar não tendo noção da medida, o gesto só acarretará inconvenientes.” Tupi.
Resumos Relacionados
- Vento E Chuvas
- Ciclone
- A Menina Do Mar
- A Arte De Ser Feliz
- O Planeta Azul
|
|