O homem que inventou Fidel (parte 2)
(Anthony DePalma)
(continuação - final...) Parece que Anthony DePalma, incumbido de escrever o obituário de Fidel para o NYT, em 2000, quis reinventar o ditador. Da pior forma possível (porque antiética), escolheu um alvo mais fácil (porque morto), para revisar a história. Não conseguiu. O que se percebe em seu livro, O homem que inventou Fidel (Companhia das Letras, 2006; 382 p.), é um ressentimento enorme, tanto profissional quanto pessoal, em detrimento da objetividade. Dá a impressão de que DePalma queria ser Matthews. Como não conseguiu a entrevista com Fidel, o que lhe renderia reconhecimento a partir de uma biografia-obituário, que fosse, escalou a escada Matthews para obter notoriedade. Mas não glória. Impotente diante das negativas de Fidel em lhe conceder entrevista, DePalma partiu para o ataque ao rival que sempre teve livre acesso ao revolucionário e depois ditador. DePalma acabou não fazendo uma coisa nem outra. O obituário de Fidel, se é que ainda será escrito por DePalma, não deverá trazer grandes novidades. E seu próprio livro contra Matthews dá a impressão que sai do nada para lugar nenhum, pois não chega à prova de que o veterano repórter do NYT estava errado, sendo seu maior engano (para DePalma) ter negado sempre que Fidel fosse comunista. "Castro nunca se tornou realmente um "comunista" (...) O que Castro fez de inovador na história foi destruir o Partido Comunista e criar seu próprio partido fidelista, por ele chamado de comunista a fim de enfrentar os Estados Unidos e obter apoio e tomar emprestado poder da União Soviética. Pela primeira vez, um líder nacional converteu o Partido Comunista a ele próprio." (trecho da biografia sobre Fidel, escrita pela colunista americana de assuntos estrangeiros Georgie Anne Geyer, e reproduzido no livro de DePalma). Eu, autora deste artigo, sou jornalista e estive na ilha, em 2005. Visitei Havana e Santiago de Cuba (leia "A Cuba que eu vi", artigo nesta lista de textos). Em livrarias de Cuba, conheci por meio de biografias oficiais (aprovadas pelo governo) um outro revolucionário imporante no comando do movimento, Camilo Cienfuegos. Busquei informações extra-oficiais, pelo relato de cubanos que conheci. Cubanos que se arriscam a falar alguma coisa sob a ditadura de Fidel, afirmam que Cienfuegos desapareceu, sem deixar qualquer vestígio. A versão oficial do governo cubano informa que Cienfuegos morreu em acidente no seu pequeno avião, enquanto cruzava a ilha. No entanto não foram encontrados destroços da aeronave nem partes do corpo do único ocupante - em um território minúsculo, de fácil investigação. Cubanos menos crentes dizem que Cienfuegos foi assassinado pela ditadura de Fidel, por ter idéias comunistas e discordar dos rumos que a revolução estava tomando - o governo de um homem só, ou seja, uma ditadura. Che Guevara também teria sido abandonado na selva boliviana, durante a guerrilha que travava (nos primeiros anos de revolução cubana), e para a qual aguardava o apoio de tropas que seriam enviadas por Fidel, mas que nunca chegaram ao local. Tanto Che quanto Cienfuegos eram comunistas e, por direito, haviam conquistado cargos importantes (ministros) no governo Fidel. Caso as execuções direta e indireta tenham ocorrido de fato, qualquer semelhança do sistema cubano em relação ao sistema stalinista não será mera coincidência.
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