Bocage: biografia (contextualização social)
(Rodriguez)
A Lisboa do século XVIII exalava luxo e pestilência. Sob a protecção real e a vigilância de Pina Manique, a nobre e alta Burguesia faziam do espectáculo e da ostentação a sua razão de existir, num contraste nítido e escandaloso com uma arraia miúda que vivia na mais extrema miséria. Amálgama de coisas belas e amargas, onde se podia encontrar um pouco de tudo, peraltas, vadios, ladrões e prostitutas, Lisboa tornara-se num antro obscuro, pálida imagem de outrora, como se o declínio fosse o seu destino e nada nem ninguém o pudesse modificar.
É neste contexto social que Bocage se movimenta numa vida de boémia e libertinagem; consciente dos gritantes contrastes sociais, glosando-os, revoltando-se contra eles de forma veemente; sofrendo com essa contrastante Lisboa setecentista. A sua personalidade parece, aliás, e para ser mais rigoroso, simbolizar a fase terminal do conflito entre a dependência relativa às instituições feudais e absolutistas e ao público editorial; entre o enquadramento absolutista e senhorial e o enquadramento capitalista do escritor.
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