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A Cuba que eu vi (1)
(Maria Truccolo)

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Cuba, 2005 - A mordida necessária para fazer uma revolução não é mais possível aos cubanos. Ao menos aos que na década de 1950 eram adolescentes e estão na faixa dos 60 anos. Os mais velhos, desdentados, e os jovens entre 20 e 30 anos usam próteses de ouro, explicando que é moda em Havana. Investigando mais um pouco, descobre-se que o material odontológico é importado e caro, custos que o governo não cobre. A metáfora estampada na cara dos cubanos evidencia a perda da força do povo que fez a Revolução. Não há mais dentes nem mordida suficientemente fortes para enfrentar uma ditadura contra a qual os mais jovens se rebelam em uma greve silenciosa. Como vigora o estado de sítio - para segurança das fontes, os nomes neste relato foram omitidos -, o protesto possível em Cuba é cruzar os braços contra os baixos salários pagos pelo governo de Fidel Castro. Avós, pais e mães estão preocupados com o futuro das novas gerações. A revolta tem a ver com boatos que espalham-se pela ilha caribenha, de que os escalões do topo da pirâmide vivem muito bem, enquanto a maioria dos 12 milhões de cubanos se viram como podem. Os carros usados por membros mais graduados no governo, por exemplo, são modelos caros e novos. Além da separação interna em classes sociais, há outro fato muito mais exposto. Ambos Mundos, hotel em Habana Vieja (centro velho de Havana), onde o escritor Ernest Hemingway se hospedava, virou museu. Ambos Mundos, mais que um hotel-museu em nome de um cidadão norte-americano que apoiou a Revolução, é uma premonição. Mais uma metáfora do que viria a ser Cuba pós-abertura aos estrangeiros. Em San Cristóbal de Habana, capital de Cuba a qualquer tempo, desde o ditador militar Fulgêncio Batista, continuando após a vitória da Revolução (1959), a população teme falar do governo, alegando que dá cadeia. Havana é a porta de entrada e saída de turistas em Cuba. Em 1990, quando os subsídios da ex-União Soviética começaram a escassear, o país iniciou a abertura a visitantes estrangeiros. Para controlar a entrada de moedas alienígenas, foi criado o peso cubano conversível (CUC), hoje equivalente a mais de um dólar ou mais de um euro. Ao entrar no país, um dólar americano sofre desvalorização automática de 18% (segunda semana de abril/2005, desvalorização de 8% sobre o dólar, somado aos 10% de impostos "na fonte" do câmbio). O câmbio tem de ser feito em casas oficiais, sob pena de prisão do cubano e expulsão do estrangeiro. A desvalorização das moedas estrangeiras é o único mecanismo do governo cubano para resguardar a economia interna. E ao mesmo tempo controlar a inflação (taxa de juros não existe), que poderia ser provocada pela desvalorização da moeda estrangeira. O ágio sobre o dinheiro estrangeiro é embolsado pelo governo, como imposto. Neste ano de 2005, Cuba vive a maior seca das últimas cinco décadas, o que explica o aperto em relação às moedas estrangeiras. Em Guantánamo, no extremo sul da ilha, a seca causou a baixa de milhares de cabeças de gado. Como Cuba depende das culturas de cana, café e cítricos, além da produção verticalizada dos "puros" (denominação local para charutos) e do turismo, o estio prolongado este ano reduziu a obtenção de divisas as duas últimas opções. O peso cubano, moeda oficial do país, é usado pela população. Vinte e quatro pesos eqüivalem a um CUC. Um médico recebe 500 pesos por mês (cerca de US$ 21,5 dólares), um "torcedor" de "puros" ganha 300 pesos, e atividades menos nobres na mesma fábrica são remuneradas de 100 a 200 pesos. Os aposentados recebem 100 pesos. Nesse enquadre, os cubanos passaram a se comparar com as levas de turistas, de 15 anos para cá. Constataram que podiam muito pouco diante do que o mundo capitalista oferece. Um tubo de creme dental e um sabonete por mês, conforme as cotas do governo, passaram a ser insuficientes para o consumo individual. As comparações não param por aí. Continua em "A Cuba que eu vi (2)".



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