A Cuba que eu vi (5)
(Maria Truccolo)
Santiago de Cuba, a 850 quilômetros de Havana, recebe um número menor de turistas do que a capital. Em Santiago, cercada pela Sierra Maestra, a 12 horas de Havana em uma estrada que atravessa Cuba verticalmente (US$ 110 ida e volta de ônibus ou US$ 255, de avião), as casas das ruas do centro histórico são marcadas por placas indicativas dos revolucionários que ali moraram. Os cubanos de Santiago são menos contaminados pelos estrangeiros em relação aos de Havana. São mais gentis e humanos, menos interesseiros, param horas para conversar, tornam-se amigos. Falam mal do governo, dizem abertamente que não sabem o que será de Cuba quando Fidel morrer. Consideram Raul Castro, irmão de Fidel, que estaria sendo preparado para substitui-lo, uma personalidade fraca para comandar o país. Assim como em Havana, baixam a cabeça, melancólicos, dizendo que talvez Cuba acabe quando Fidel morrer. Outros dizem que o país já está falido. Reclamam do tédio, da rotina, expondo a resignação por saberem que nunca terão chance de sair do país. Perguntam muito como se vive em outros mundos. Precisam de autorização do governo inclusive para ir a outras cidades, o que evita o inchaço de Havana - sonho de consumo para quem quer acumular dólares e euros. O déficit habitacional é motivo de reclamação geral dos cubanos. A maior parte dos que casam continuam morando com os pais, e assim há casas de três cômodos abrigando 13 pessoas. O material de construção é escasso e caro. O governo dá uma parte e a outra é adquirida por uma minoria que pode desembolsar US$ 6 por um saco de cimento. Daí, a deterioração visível da maioria dos prédios, principalmente os do patrimônio histórico, no centro de Havana (Habana Vieja). Os transportes públicos são precários e os cubanos são obrigados a dar carona aos conterrâneos, que pagam um mínimo pela ajuda. Os que possuem carros maiores (caminhonetes antigas com bancos de madeira na parte posterior), para transporte de pessoas, e que vivem disso, pagam 600 pesos cubanos por mês ao governo. Não têm horário fixo, mas têm que pagar a cota e embolsam o que sobra. Muitos carros antigos usados como lotação são parados pela população e cobram um preço fixo pela viagem. Os turistas praticamente não têm acesso ao transporte público - podem usar carros antigos que funcionam como táxi. No terminal ferroviário de Havana, os cubanos se amontoam em bancos de madeira enfileirados. Os horários são fictícios, o atendimento nos guichês é péssimo (até para os cubanos), e as incertezas sobre as viagens tornam o sistema completamente caótico. Continua em "A Cuba que eu vi (6)".
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