História da Cartografia - II
(Jones Godinho)
Na mesma época, a cartografia árabe experimentava marcante progresso. No ano de 827, o califa al-Mamum ordenou a tradução da Geografia de Ptolomeu para o árabe. Bagdá, Damasco e Córdoba, os centros culturais de então, reuniram geógrafos e cartógrafos estimulados pelo intenso comércio a se expandir do Mediterrâneo até a China. Foram autores de mapas Ibn Hawkal, Abu Isak Istakhri e Maomé al-Edrisi. Ibn Hula construiu um globo terrestre. O rei Rogério II, da Sicília, foi grande incentivador desse movimento, e a ele al-Idrisi dedicou sua compilação geográfica, que possuía um mapa-múndi dividido em setenta folhas. As cruzadas e o comércio marítimo, em especial o italiano, impulsionaram a confecção de cartas náuticas, mapas marítimos desenhados sobre pergaminho. Impropriamente chamados de portulanos, tinham como característica principal o desenho da rosa-dos-ventos que ocupava todo o espaço do mar: resultava daí um conjunto de retas entrecruzadas que facilitava a fixação da rota por parte do navegador. Destacam-se também nessa época as Tábuas Toledanas, de Toledo, Espanha, completadas em 1252 por ordem de Alfonso X (1221-1284), rei de Castela, razão por que também são conhecidas como Tábuas Alfonsinas. Nesse período de grande efervescência científica e cultural, são fundadas escolas de cartografia em Gênova, Veneza e Ancona, na Itália, bem como em Palma de Maiorca, no arquipélago das Baleares, Espanha, que logo assumiram o papel de principais fornecedores de mapas marítimos. Exemplo significativo da produção desses centros cartográficos é o Atlas catalão, de 1375, organizado por ordem de Carlos V o Sábio, rei da França. Monumento artístico, tem oito folhas e o mapa, de 390cm x 69cm, é de autoria de Jaime de Maiorca (Jafuda Creques). Em conformidade com o sistema corporativo vigente à época, a cartografia, em sua produção e comércio, ficou associada a diversas famílias, que conservavam entre si certos segredos de ordem técnica. O ciclo das grandes navegações exigiu maior exatidão e ampliação das informações cartográficas. Ainda no século XV, em Sagres, Portugal, o infante D. Henrique - entre outros especialistas - reuniu geógrafos, astrônomos e cartógrafos de diferentes países, e no século seguinte Portugal já contava com grandes cartógrafos como Lopo Homem, André Homem, Diogo Ribeiro, Gaspar Viegas, Bartolomeu Velho e Fernão Vaz Dourado. Em 1508, em Sevilha, na Espanha, a Casa de la Contratación de las Índias instalou um órgão fiscalizador da produção e comércio de mapas para a navegação. O mapa-múndi Orbis typus universalis tabula (1512), do veneziano Jerônimo Marini, é o primeiro em que se registra o nome Brasil. Já na segunda metade do século XVI apareceram os primeiros mapas impressos em xilografia ou que empregavam gravações em chapas de cobre. O século XVII assistiu ao apogeu da cartografia nos Países Baixos, especialmente nas cidades de Antuérpia e Amsterdã. Esse progresso deve-se a cartógrafos como Abraham Ortelius, Jodocus Hondius e, sobretudo, a Gerardus Mercator, forma latinizada de Gerhard Kremer (mercador). Deve-se a Ortelius o Theatrum orbis terrarum (1570), com 53 folhas cartográficas e setenta mapas gravados em cobre, o primeiro Atlas nos moldes dos atuais. Mercator criou a projeção que leva seu nome, própria para mapas náuticos, segundo a qual os meridianos são os ângulos retos aos paralelos de latitude. Ainda nos Países Baixos, a família Blaeu reuniu alguns dos maiores nomes da época, como Guilielmus Caesius ou Guilielmus Jansonius Blaeu, Jan Blaeu e Cornelis Blaeu. Ao declínio da cartografia holandesa, acelerado pelo incêndio nas instalações da família Blaeu, seguiu-se a ascensão da cartografia francesa, em que sobressaem Guillaume Delisle e Jean-Baptiste Bourguignon d''Anville. No século XVIII ganha corpo o critério da exatidão como regra cartográfica e nesse aspecto se destaca o francês César-François Cassini, devido a sua carta da França, na escala 1:86.400, com 184 folhas. Pouco depois, Napoleão Bonaparte mandou preparar o mapa manuscrito de toda Europa, na escala 1:100.000, com 254 folhas.
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