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Água de cabaça
(Vladimir Souza)

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Introdução

De temática variada, Água de cabaça é um livro para se ler várias vezes, principalmente, por situar o leitor sergipano num espaço conhecido, já que a maioria das narrativas se passa na região de Itabaiana, município de onde procede o seu autor, o juiz federal Vladimir Souza Carvalho. A procedência dá às histórias um caráter memorialista, mas não autobiográfico, se bem que é possível perceber aqui e ali as andanças do autor em sua região de origem.
Não é surpreendente a capacidade do autor de resgatar as "estórias" regionalistas, que enriquecem a oralidade literária sergipana, principalmente, numa época afeita às narrativas urbanas, visto que em outras obras suas, essa tendência já se fazia sentir. Pesquisador, agudo observador da vida comunitária e patriarcal de Itabaiana, Vladimir, em Água de caba­ça, revela-se um contador de "estórias", no sentido roseano da expressão.
Percebe-se que a estrutura narrativa de suas 31 "estórias" guarda estreita relação com a realidade objetiva, o que reforça o caráter verossímil do que conta, e, até mesmo nas narrativas alegóricas, que, pelo poder de convencimento que apresentam, o leitor é levado a crer na "estória" que está lendo, como se os fatos tivessem mesmo acontecido, talo poder de persuasão do narrador, do autor.
Do ponto de vista literário, Água de cabaça insere Vladimir na rica e consagrada Literatura regionalista brasileira, não só pela captação da atmosfera rural, mas por uma linguagem experi­mental, eivada de artifícios literários, que embelezam e dramatizam as "estórias" contadas.
Ler Água de cabaça é penetrar no rico cabedal cultural do interior sergipano e conhe­cer costumes que dão originalidade a um "modus vivendi" que ainda hoje teima em resistir.

A problemática da obra

Os contos que compõem o livro Água de cabaça são regionalistas, tanto do ponto de vista temático quanto do ponto de vista da linguagem. Entretanto, o regionalismo não impede que algumas narrativas abordem situações universais e atemporais, o que contribui para a diversidade temática da obra e até mesmo lingüística.
O livro se abre com o conto O Retorno, uma paráfrase do discurso bíblico da volta de Jesus Cristo ao mundo e se fecha com Lugar na missa, uma crítica contundente à intolerân­cia eclesiástica. Em ambos, percebe-se uma reflexão sobre a Igreja pelo seu dogmatismo. Entre um e outro, há mais 29 contos, ou estórias para reforçar o caráter oral das narrativas.
Mas o grande tema da maioria desses contos é o erotismo, como símbolo de liberdade e desalienação, conforme acontece em O encontro; castrador da felicidade humana, como apare­ce em Jantar, ou apenas como ato instintivo, primário, natural, como em Areia no prato e O Ato.
A violência, o coronelismo, a pistolagem, a vingança, também são temas abordados por vários contos, retratando uma sociedade patriarcal, machista e sobretudo dominada códigos primitivos de convivência, em que sempre prevalece a lei do mais forte. A Boneca, Piedade e Gato e Lagartixa fazem essa abordagem.
Em outros contos aparecem o misticismo, o amor platônico, o sonho, a felicidade, desejo de descoberta, como em Capricha no pastel, Aparício, um hino à amizade e à simplicidade, à autenticidade, como forma de convivência pacífica entre os seres humanos.
Mas os contos de Água de Cabaça captam um momento de transição, de transforma­ção, ocorrido no interior de uma sociedade fadada a desaparecer, mas que teima em resistir, a sociedade rural patriarcal, e é, nessa captação desse momento, que reside a riqueza da obre..
Nesses termos, o conto Conexão é o mais emblemático. A sociedade capitalista, tec­nológica. com seu racionalismo, aparece como "uma engrenagem monstruosa", pronta para devorar a tudo e a todos, invadindo um espaço ainda dominado pelo primitivo, pelo místico, pelo sobrenatural.
A linguagem do autor empregada na maioria dos contos é correta do ponto de vista gramatical, revelando um estilo clássico, se bem que a temática da maioria dos contos seja regionalista. A fusão da linguagem clássica com as expressões orais, regionais e de cunho naturalista acaba tendo um efeito literário agradável, entretanto.
Frases curtas, nominais, orações coordenadas assindéticas, pouca subordinação, fazem o estilo objetivo das narrativas, e até mesmo quando o autor faz uso de metáforas inusitadas, comparações com elementos da natureza, percebe-se a plasticidade da linguagem.



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