O Vulto das Torres
(Lawrence Wright)
O Vulto das Torres – A Al Qaeda e Caminho até o 11/9 Lawrence Wright Cia das Letras – 506 p.` A Morte lhe Cai Bem No período que se seguiu ao 11/9 não faltou quem criticasse corretamente a subserviência da Imprensa norte-americana e seu mutismo diante das atrocidades do Governo Bush. Sem dúvida, não foi um período muito feliz para o jornalismo dos EUA, famoso por sua combatividade. Mas nem tudo está perdido. Essa é a primeira conclusão que se tira da leitura de O Vulto das Torres, um minucioso trabalho jornalístico de reconstituição da história da Al Qaeda e da preparação dos atentados. Na melhor tradição do new journalism, Wright mescla uma rigorosa narrativa dos fatos com um rico perfil dos personagens envolvidos, montando um livro saboroso e ao mesmo tempo fundamental para se entender o mundo do terrorismo islâmico e, consequentemente, o mundo de hoje cuja geopolítica gira em torno do Oriente Médio. Agora o que Wright não consegue explicar e nem poderia, dado o escopo do livro é como uma ideologia que banaliza a morte de tal forma pôde surgir no seio de uma das maiores tradições religiosas da humanidade. Como seres humanos civilizados, do século XXI podem aceitar com tal naturalidade o suicídio e a matança indiscriminada de inocentes. Isso não foi simplesmente invenção de Osama Bin Laden, o livro informa claramente que a única (e fundamental) contribuição deste foi dar à prática uma escala planetária. Claro que o livro nos dá pistas aqui e ali, contando o surgimento do wahabismo (ramo fundamentalista do Islã) no século XIX, bem como a vida e obra de Sayid Qutb, intelectual islamita que disseminou a idéia do Ocidente como “terra decadente”a volta ao rigor da religião original como antídoto para a depravação ocidental. Também arrisca interpretações quando afirma, por exemplo, que a noção de pureza islâmica caminha lado a lado com a violência brutal dos fundamentalistas. Tudo isso é verdadeiro e sem dúvida ajudou em criar o monstro mas não parece ser suficiente para uma ruptura filosófica desse nível. É preciso lembrar que o Islã é uma religião muito parecida com o cristianismo e compartilha com este as noções da vida como dádiva de Deus, de valor absoluto e do suicídio como pecado mortal. Como, num curtíssimo período histórico passou-se da valorização da vida para o patrocínio de atentados suicidas? São questões que após a leitura permanecem em aberto mas não resta dúvida que o livro avança muito para sua solução, pois nos propicia uma visão de perto da vida e das idéias dos fundamentalistas islâmicos. Obrigatório.
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