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Biocombustíveis
(Paul Krugman)

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Atualmente você ouve muito sobre a crise financeira mundial. Mas há
outra crise mundial em andamento -e está prejudicando muito mais
pessoas.

Eu falo sobre a crise de alimentos. Nos últimos dois anos os preços do
trigo, milho, arroz e outros alimentos básicos dobraram ou triplicaram,
com grande parte do aumento ocorrendo nos últimos poucos meses. Os
altos preços dos alimentos incomodam até mesmos os americanos
relativamente prósperos, mas são realmente devastadores nos países
pobres, onde os alimentos freqüentemente são responsáveis por mais da
metade das despesas de uma família.

Já há ao redor do mundo tumultos causados por alimentos. Os países
fornecedores de alimentos, da Ucrânia até a Argentina, estão limitando
as exportações em uma tentativa de proteger os consumidores domésticos,
levando a protestos furiosos dos produtores rurais -e tornando as
coisas ainda piores nos países que precisam dos alimentos importados.

Como isto aconteceu? A resposta é uma combinação de tendências de longo prazo, azar e política ruim.

Vamos começar pelas coisas que não são culpa de alguém.

Primeiro, há a marcha dos chineses comedores de carne -isto é, o
crescente número de pessoas nas economias emergentes que estão, pela
primeira vez, ricas o bastante para começarem a comer como os
ocidentais. Como são necessárias cerca de 700 calorias em ração animal
para produzir um bife de carne bovina de 100 calorias, esta mudança na
dieta aumenta a demanda geral por grãos.

Segundo, há o preço do petróleo. A agricultura moderna é altamente
intensiva em energia: muita BTU (unidade térmica britânica) é usada na
produção de fertilizante, na operação de tratores e no transporte dos
produtos agrícolas aos consumidores. Com o petróleo persistentemente
acima de US$ 100 o barril, os custos de energia se tornaram o principal
fator por trás dos aumentos dos custos agrícolas.

Os altos preços do petróleo, a propósito, têm muito a ver com o
crescimento da China e de outras economias emergentes. Direta e
indiretamente, estas potências econômicas em ascensão estão competindo
com o restante de nós por recursos escassos, incluindo petróleo e
terras agrícolas, elevando os preços de matérias-primas de todo tipo.

Terceiro, houve uma seqüência de condições meteorológicas adversas em
áreas-chave de cultivo. A Austrália, em particular, normalmente a
segunda maior exportadora de trigo do mundo, vem sofrendo uma seca
épica.

OK, eu disse que estes fatores por trás da crise dos alimentos não são
culpa de ninguém, mas não é bem verdade. A ascensão da China e de
outras economias emergentes é a principal força por trás do aumento dos
preços do petróleo, mas a invasão ao Iraque -que seus proponentes
prometeram que levaria a petróleo mais barato- também reduziu a oferta
de petróleo abaixo do que estaria caso contrário.

E o clima ruim, especialmente a seca australiana, está provavelmente
relacionado à mudança climática. Assim, políticos e governos que
ficaram no caminho da ação contra os gases do efeito estufa têm alguma
responsabilidade pela escassez de alimentos.

Mas onde os efeitos de políticas ruins estão mais claros é na ascensão do demônio etanol e outros biocombustíveis.

A conversão subsidiada de produtos agrícolas em combustível deveria
promover a independência energética e ajudar a limitar o aquecimento
global. Mas esta promessa era, como colocou a revista "Time", um
"embuste".

Isto é particularmente verdadeiro em relação ao etanol de milho: mesmo
nas estimativas otimistas, a produção de um galão de etanol de milho
usa grande parte da energia que o galão contém. Mas, na verdade, até
mesmo políticas de biocombustíveis aparentemente "boas", como a usada
pelo Brasil com o etanol de cana-de-açúcar, aceleram o ritmo da mudança
climática ao promover o desmatamento.

E enquanto isso, a terra usada para cultivo de ração e biocombustível é
terra não disponível para o cultivo de alimentos, de forma que os
subsídios aos biocombustíveis são um grande fator na crise dos
alimentos. Seria possível colocar desta forma: as pessoas estão
passando fome na África para que políticos americanos possam cortejar
eleitores nos Estados rurais.

Ah, e em caso de você estar se perguntando: todos os candidatos presidenciais que restam são terríveis nesta questão.

Mais uma coisa: um motivo para a crise dos alimentos ter ficado tão
severa, tão rapidamente, é que os grandes agentes no mercado de grãos
se tornaram complacentes.

Governos e mercadores privados de grãos costumavam manter grandes
estoques em tempos normais, para o caso de uma safra ruim criar uma
escassez repentina. Mas ao longo dos anos, foi autorizado que estes
estoques preventivos encolhessem, principalmente porque todos
acreditavam que os países que sofressem quebra de safra sempre poderiam
importar o alimento necessário.

Isso deixou o equilíbrio mundial de alimentos altamente vulnerável a
uma crise que afeta muitos países ao mesmo tempo -da mesma forma que a
negociação de títulos financeiros complexos, que deveriam afastar o
risco por meio da diversificação, deixaram os mercados financeiros
mundiais altamente vulneráveis a um choque por todo o sistema.

O que deve ser feito? A necessidade mais imediata é de mais ajuda para
as pessoas em dificuldades: o Programa Mundial de Alimentos da ONU fez
um apelo desesperado por mais fundos.

Nós também precisamos reagir contra os biocombustíveis, que revelaram ser um erro terrível.

Mas não está claro quanto precisa ser feito. Alimento barato, assim
como o petróleo barato, pode ter se transformado em algo do passado.

Paul Krugman



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