Senhora - 2ª Parte.
(José de Alencar)
Voltando a narrativa àquele momento, Fernando se sentiu extremamente magoado, por achar que não estava tendo seu amor por Aurélia correspondido, humilhado e ofendido, por achar que estava sendo simplesmente comprado por uma garota rica e caprichosa, e então tomou uma decisão, não se utilizaria de nenhum dos bens materiais oferecidos por Aurélia, e economizaria dinheiro o suficiente para lhe devolver a quantia do dote, e assim readquir sua liberdade.
Neste momento, operou-se uma transformação em Fernando, do inconseqüente e boêmio rapaz de outrora, para um eficiente e pontual funcionário, e marido dedicado e serviciente, pronto para atender as necessidades de sua esposa e senhora.
Entre os dois se formou um abismo, embora encenassem uma realidade de casal feliz para todos que os cercassem, intimamente possuíam uma relação de trocas de farpas e inteligentes diálogos de provocações, que se deteriorava mais a cada dia que passavam juntos.
Por muitas vezes travavam calorosas discussões, em meio a várias pessoas, sempre se utilizando de gestos e expressões gentís e afáveis, e colocações irônicas e metafóricas, sem que ninguém percebesse que aquela aparentemente amável conversa entre um casal, se tratava na verdade de um verdadeiro duelo verbal.
Ambos, motivados por orgulho e mágoa, escondiam seus sentimento por trás de irônias, insultos e provocações, em algumas oportunidades, algum deles, tomados pelo forte sentimento que tinham, fraquejavam e começavam a expor o seu amor, porém, as duras palavras que o outro proferia, impediam o prosseguimento desta exposição.
Aurélia ficou sabendo por meio do Dr. Torquato Ribeiro, que seu antigo pretendente, Eduardo Abreu, havia dilapidado toda a fortuna de sua família, e estava à miséria, desta forma pensando até em se suicidar. Aurélia, que ainda nutria muita gratidão a Eduardo por este tê-la ajudado num momento tão difícil de sua vida, pediu a Torquato que a ajudasse a recuperar a estima de Eduardo, e para isso, Torquato deveria marcar uma visita dele à casa de Aurélia.
Onze meses após o casamento, ao ir ao trabalho, Fernando esbarrou casualmente com um velho amigo que o estava procurando, este lhe informara que um descompromissado investimento que Fernando fizera há anos atrás, e jurava ter se perdido, rendera-lhe um bom dinheiro, mas para resgatá-lo Fernando precisava apresentar o comprovante.
Imediatamente Fernando voltou à sua casa para procurar o comprovante, e ao chegar lá, se deparou com Aurélia e Eduardo conversando na sala. Tomado de ciúmes, este decidiu que esta era a gota dágua, foi até seu quarto, achou o comprovante e voltou ao trabalho sem se despedir de ninguém.
Aurélia ao procurar Fernando em seu quarto, se deparou com seus documentos expostos, resultado de sua busca pelo comprovante, e dentre estes achou um objeto que Adelaide lhe dera enquanto estes ainda eram noivos, o que lhe causou perturbação.
Fernado ao retornar a casa, chamou Aurélia para uma conversa definitiva, ele lhe devolveu intacto o cheque que esta havia lhe dado na noite de núpcias, do restante do valor do dote, a quantia que pegara antecipada, e juros equivalentes aos meses que ficaram juntos, frutos de economias de seu salário e do providencial valor que recebera do investimento esquecido.
Disse-lhe que a partir daquele momento resgatava sua liberdade, pediu a separação, explicou a origem do dinheiro que estava lhe devolvendo, e os motivos porque aceitara o casamento supostamente “por conveniência”.
Aurélia ouviu tudo impassível, fria e comercialmente recolheu a quantia que Fernando lhe dara, devolveu-lhe o recibo, explicou o motivo da visita de Eduardo Abreu, e se despediu secamente de Fernando, dizendo-lhe que fosse embora imediatamente.
Quando Fernando já se retirava, Aurélia o chamou, foi em sua direção e no mesmo lugar onde na noite de núpcias havia destruído suas esperanças, disse-lhe que o passado estava encerrado, e apartir daquele momento, não eram mais casados, e sim dois completos estranhos, e desta forma, declarou todo o seu amor a Fernando, e pediu a este que a partir daquele momento a aceitasse.
Porém, embora a atitude de Fernando houvesse demonstrado a redenção que Aurélia tanto necessitava para liberar o seu amor, a recíproca não tinha acontecido, então Fernando a repeliu afirmando que seu dinheiro havia afastado todas as chances de serem felizes.
Imediatamente, Aurélia lhe entregou a carta de testamento que havia lavrado onze meses atrás, no dia do casamento, e neste, Fernando constava como único e universal herdeiro de toda a sua fortuna.
Resolvidas todas as pendências sentimentais, os protagonistas puderam finalmente se entregar aos seus sentimento.
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