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Fernando Pessoa, no seu tempo.
(Maria Galhoz)

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Uma dessas perspectivas é, talvez, a sua apreciação integrada na cultura portuguesa do tempo que viveu. . Ao procurarmos, porém, uma perspectiva ou uma síntese histórica dos acontecimentos culturais da sua época, a conclusão, generalizada, de um isolamento de Fernando Pessoa, tem que ser revista, ao menos em suas conseqüências exteriores de participação escrita.
Apesar da notável amplitude da sua campanha – educação que a todos chegasse “pela Revista, pelo Livro, pela Conferência, pelo Concerto, pela Exposição, pela Universidade Popular” -, o reconhecimento da sua influência foi raro e mais raro ainda vindo do mal disfarçado despeito de uma Lisboa momentaneamente desapossada da coroa de mentora intelectual do país.
Até ao fim do seu efetivo convívio o que dele esperam e aceitam é a doutrinação e a apologia. A estréia de Fernando, para o público, acontece confundida e ligada a essa sua acidental responsabilidade de aparente crítico apologista da Renascença Portuguesa e da revista A Águia.
Previsionais e simbólicas, as aparências dizem sempre da sua sustentada atitude intelectual, do lado de fora do seu brilhante jogo dialético, e do seu hermetismo messiânico e atemporal. Fernando Pessoa continua um como que estrangeirismo por sua devorante informação de leitura, de predominância inglesa, e que trouxera como um hábito da sua escolaridade na África do Sul. Alguns poucos entre eles o sabiam já, previsionais e lúcidos, Fernando, sobretudo, apesar do seu utopismo.
Esteticamente, se a todos era comum, no jeito que sempre fica da inclinação ou do ouvido, o entendimento do simbolismo e do impressionismo franceses, acrescentados das vozes, já particulares, do lusitanismo, saudosismo, paisagismo, decadentismo, com que a mãe Águia os encaminhara nos seus primeiros contatos com uma arte portuguesa do seu tempo, foi-lhes possível juntar, por esforço e mérito próprios, toda uma cultura avançada e sem fronteiras.
. Sá-Carneiro e Fernando Pessoa, mais dotados, e iniciados de mais longa data pelas perguntas e respostas da sua correspondência, aventuram-se ao repto literário dos mesmos e de outros “ismos”. O nome ficará nos ouvidos alheios como o comum e persistente por que serão conhecidos, e o seu teor está efetivamente na base da complexidade formal e da pseudocomplexidade de ideação que é, na maioria do grupo, o tom mais familiar e mais difundido.
. O intersecionismo, depois da execução, sobre uma cuidadosa montagem tórica, do modelo especímem que é a seqüência dos poemas de Chuva Oblíqua, dilui-se, para F.P., num discreto recurso estético que imbuirá a sua poesia ortônima e, para os outros, na intenção de o realizarem. . Referimo-nos a Álvaro de Campos com o ciclo das suas grandes odes, a Almada Negreiros com o escárnio profético do poema grave que é a sua “Cena do Ódio”, a ambos com a obra de saneamento mental provocada através dos libelos importuníssimos e pertinentes da prosa explosiva dos seus manifestos e declarações. Também um jornalismo, medíocre e, no que se refere a Orpheu, desrespeitador da mais elementar civilidade, afaga, em proveito próprio, a estreiteza de espírito dos pseudoliteratos e abusa, com receita garantida, da credulidade da massa dos seus leitores. Entre os clamores e as anedotas, dois alvos infalíveis dos protestos e das imitações de revistas. Fernando Pessoa – Álvaro de Campos e Sá-Carneiro. O tempo traria desmentido bem irônico à infalibilidade dos vaticínios então emitidos.
Literatura nova, irrequieta, que se apregoa revolucionária e modernista, perturba, portanto, a gravidade e pose dos corifeus reverenciados das letras. À hora da amizade quando os amigos eram todos; da arte quando a partilhava com “irmãos em pseudo”; da cooperação quando esta se abria muito para além da literatura. A hora que dá aos poemas do “mestre” Alberto Caeiro.
... tanta saudade – cada vez mais tanta! – daqueles tempos antigos de Orpheu, do paulismo, das interseções e de tudo o que passou. –
“O resto, o conjunto” era a inevitável marca do tempo nos desejos e nos modos que a vida ia substituindo àqueles que fizeram Orpheu. A inutilidade da discussão. No entanto situa-se aqui, cremos um dos mais significativos e desvendadores momentos do “mistério Pessoa”. Sinceridade, obsessão do seu próprio caso, interrogação, entre fascinada e pavorosa, do que vai como limite, como defesa, do possesso do gênio ao possesso da loucura.
Há três cousas com que um espírito nobre, de velho ou de jovem, nunca brinca, porque o brincar com elas é um dos sinais distintivos da baixeza da alma: são elas os deuses, a morte e a loucura.
Jovem e próximo de outros jovens tinha ele procurado a fruição da poesia de Cesário, da poesia de Camilo Peçanha, como o direito raro de participar de uma dádiva digna da contemplação de poucos escolhidos. “Na terra dos palermas de Coimbra” – definição do pintor Almada Negreiros -, um grupo de moços, que não eram de Coimbra só, mas de muitos lados, funda a menos provinciana e a mais relevante folha de cultura e arte depois do episódio Orpheu.



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