Imagens que falam: leitura da arte na escola
(Maria Helena Wagner Rossi)
No livro Imagens que falam Rossi expõe o trabalho de pesquisa realizado com alunos das séries iniciais até o ensino médio, enfocando aspectos relacionados à leitura de imagens e principalmente à leitura estética. Para tanto, a autora lançou mão de quatro reproduções em tamanho A3 de obras de arte dos artistas Cindy Sherman, Piet Mondrian, Lasar Segall e Anish Kapoor, uma imagem publicitária e uma visita à instalação Trans-e: my body, my blood, de Diana Domingues. A autora inicia seu percurso definindo nossa cultura como civilização da imagem, defendendo a leitura de imagens como essencial para a compreensão do nosso cotidiano e para um conceito pleno de alfabetização, devendo estar presente em todos os níveis de escolarização. Também apresenta um rápido histórico da situação da imagem na sala de aula, indo da livre-expressão, na qual a criança não podia ser “contaminada” por imagens externas, até abordagens contemporâneas, como a leitura estética, que postula sobre arte e vida imbricadas. A autora destaca ainda três pesquisadores que se empenharam em compreender o desenvolvimento estético: Parson, Housen e Freeman. Para Parson existem dois aspectos na evolução da compreensão estética: o estético dividido em cinco estágios que ajudam na interpretação da obra e o psicológico, que contribui para o desenvolvimento cognitivo. Para Housen o desenvolvimento estético também está dividido em cinco estágios, que vão de uma visão egocêntrica até um conhecimento geral da obra. Já para Freeman as crianças, especialmente, criam uma teoria da arte própria, que utilizam para explicar sua compreensão. Baseada nesses pontos de vista, Rossi apresenta a pesquisa feita com 168 estudantes de Ensino Fundamental e Médio de Caxias do Sul/ RS, divididos em dois grupos: o Grupo A, composto por 84 alunos não-familiarizados com a arte, pertencentes a escolas públicas e o Grupo B, composto por 84 alunos familiarizados com arte, pertencentes a escolas particulares.A partir da apresentação das reproduções das obras e da visita à instalação, a autora apontou cinco tipos de relações possíveis que os alunos estabeleceram com as imagens, das séries iniciais ao ensino médio. As relações são estas: Relação imagem-mundo (I-M): O leitor acredita que a imagem é, literalmente, uma representação do mundo, servindo para mostrar a realidade e o artista apenas transfere a realidade para a obra. Essa relação ramifica-se em:
Relação I-M 1: quando o leitor não admite a autonomia do artista, sendo este um oportunista, que se aproveita dos temas que surgem submetendo-os à realidade tal qual ela é;
Relação I-M 2: o leitor reconhece a intencionalidade do artista até o ponto de escolher o que representar. Essa relação é comum nas séries iniciais até a entrada da adolescência;
Relação I-M 3: o leitor pensa que a obra é resultado da transferência dos sentimentos do artista para a imagem, sendo o mundo interior do artista o referencial. Surge na pré-adolescência e pode estender-se até a vida adulta.
Relação imagem-artista (I-A): O leitor pensa que a definição do significado da obra depende somente do artista, e tenta decifrar os significados implícitos da obra. Nessa relação, o leitor ainda não tem consciência da constituição cultural do artista, valorizando sua expressividade e distinguindo o julgamento moral (bom) do estético (belo).
Relação imagem-leitor (I-L):O leitor adquire consciência da atividade interpretativa, assumindo seu papel ativo na construção dos significados da imagem e seu sentido passa a ser buscado na própria subjetividade.
A autora também apontou alguns tipos de julgamentos na leitura estética dos alunos entrevistados, tais como: O critério da cor é o primeiro que aparece nas crianças pequenas e está ligado ao gosto pessoal e à subjetividade. O tema da imagem é utilizado tanto de maneira concreta quanto abstrata, assim como no final do ensino fundamental. Também aparecem os critérios do realismo da imagem, da expressividade, da maestria e da criatividade do artista e da utilidade da obra. Na pesquisa realizada, a autora constatou problemas na interpretação da reprodução da instalação É um homem, sem título parte II de Anish Kapoor, pois a maioria dos alunos não conseguiu atribuir um sentido abstrato à obra. O mesmo não aconteceu durante a visita à instalação Trans-e: my body, my blood de Diana Domingues, onde ocorreu a interação dos alunos com a obra. Essa questão levantou uma grande interrogação da autora perante o modo de apresentação da imagem de uma instalação, já que a maioria dos alunos não tem acesso a este tipo de produção artística. Também ocorreram problemas com a leitura da imagem publicitária, já que muitos alunos não tinham a consciência metafórica para entender a mensagem. A partir da pesquisa, Rossi propõe três níveis de pensamento estético: o Nível I, composto pelas características das relações imagem-mundo tipos 1 e 2; o Nível 2, composto pelas características da relação imagem-mundo tipo 3 e o Nível 3, formado pelas relações imagem-artista e imagem-leitor. Os alunos não estão limitados a um nível ou outro, podendo transitar entre todos. Finalizando seu livro, Rossi considera o importante papel da leitura estética, tanto quanto o da produção artística para o desenvolvimento cognitivo do aluno, principalmente dos que não possuem familiaridade com arte. Para isso, segundo a autora, é preciso levar em consideração as condições dos alunos, tanto de conhecimento quanto de compreensão estética, não despejando conteúdos prontos sem conhecer a realidade de cada um.
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