Charles Chaplin,
(Bill Hostein)
Chaplin, o Charles Chaplin (1889-1978), nasceu em Londres, e passou a infância e adoslecência nas ruas, um fato que ajudou a desenvolver sua vaga noção socialista, estreiou na comédia O vagabundo (The tramp, 1915), no tempo do cinema mudo. Apareceu em mais de 70 filmes curtos e longos que combinavam humor e drama. Apresentava-se com
chapéu-coco, bigodinho preto, calças bufantes e sapatos maiores do que o
necessário, bengala de junco e um coração de criança. Dominava a arte da
mímica e da expressão corporal. Viveu situações tragicômicas que provocaram gargalhadas e emoção, calafrio e ternura. Tinha modos refinados e a dignidade de um lorde inglês,
O inconseqüente Carlito não ligava para nada, inclusive para a comida, exceto quando precisava matar a fome. Na comédia Em busca do ouro (The gold rush, 1925), porém, elaborou e serviu a refeição mais divertida da história do cinema. O filme gira em torno da corrida do ouro na fria e hostil região canadense do Yukon no final do século 19. Carlito é um dos milhares de forasteiros que tentam a sorte como garimpeiro. A história tem final feliz. Entretanto, antes que isso aconteça, ele enfrenta sucessivas dificuldades. Certa vez, encontrava-se em uma cabana nas montanhas, esperando passar a tempestade de neve. Dividia a habitação miserável com outro aventureiro, o grandalhão e truculento Big Jim McKay, vivido pelo ator Mack
Swain. As barrigas de ambos roncavam, sem haver um único osso capaz de
apaziguar os seus clamores. Além disso, era o Dia de Ação de Graças , festa que os norte-americanos celebram na quarta quinta-feira de novembro, para reverenciar a bondade, generosidade e proteção de Deus. O ponto culminante é uma refeição com familiares e amigos. Portanto,
deve ter comida. Sem outra saída, Carlito retira a botina do pé, enfia na
panela e leva ao fogo. Depois, coloca-a delicadamente no prato, tendo o cuidado de acrescentar, com uma concha, o “caldo” do cozimento.
Na mesa, divide a botina em porções. A parte que cobria o alto do pé
e o tornozelo fica com Big Jim; a sola repleta de pregos compete a Carlito.
Idêntico destino encontra o cadarço, que o chef de araque dispõe num pratinho auxiliar. Na delirante imaginação de Carlito, aquele cordão surrado se
converte em delicioso espaguete, que enrola nos dentes do garfo para levar à
boca. Já a sola dura e insípida vira uma tenra e saborosa ave de caça. Alucinado pelo estômago, ele chupa prazerosamente os pregos, como se fossem
ossos sublimes. Big Jim, embora sem qualquer elegância, faz o mesmo com a
sua porção. Entretanto, continua açoitado pela fome. Carlito propõe cozinhar a outra botina. Ele recusa. Então, Big Jim é acometido por uma miragem. Aos seus olhos, Carlito se converte numa imensa, gorda e apetitosa galinha carijó. Tenta matá-la de qualquer jeito, para comer. Felizmente, não consegue. Por essas e outras cenas, Chaplin declarava que Em busca do ouro
era o filme pelo qual desejava ser lembrado.
Pouca gente sabe, mas a dupla de comediantes saboreou de verdade –
e repetidas vezes – aquela botina feia. Extremamente perfeccionista, o talentoso ator e diretor fez dezenas de tomadas. Duas dúzias de botinas foram confeccionadas por um confeiteiro italiano especialmente contratado. Ele misturou xarope de alcaçuz, açúcar, goma-arábica, obtendo uma massa firme. A seguir, moldou o sapato. Para alimentar centenas de extras, Chaplin instalou uma cozinha de campanha junto ao local das filmagens, que aconteceram tanto nas geleiras de Truckee, na Sierra Nevada, como em Hollywood, em Los Angeles. O cozinheiro também era italiano e oferecia como prato único uma receita de seu país, batizada de espaguete à moda das montanhas.
O nome homenageava as cordilheiras que serviram de cenário aos falsos garimpeiros e devoradores das botinas de mentira.
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