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Um Especialista
(Lima Barreto)

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O comendador e o coronel Carvalho, tinham por hábito todas as tardes, após o jantar seguir para o Largo da Carioca, e entre fumaças de bons charutos, cafés e licores, trocar confidências sobre as conquistas amorosas, vez ou outra falavam de negócios.
        O comendador estava com cinquenta anos, viera de Portugal com vinte e quatro anos, estabelecendo-se como comerciante, estava casado, tinha duas filhas, porém levava uma vida livre e solta.
       O coronel Carvalho, veio de Portugal com sete anos, e após varios tipos trabalhos, tornou-se dono de boa fortuna ao especular imóveis na bolsa de Valores, ganhou também a patente de coronel  da Guarda Nacional. No momento gerenciava uma fábrica de fósforos. Viúvo e sem filhos,  vivia uma vida de rico, assim como o amigo. Moravam os dois no Rio de Janeiro e juntos frequentavam os rend-vouz da cidade.
       O comendador amava as mulheres negras.  O coronel ao contrário preferia as francesas, italianas ou simplesmente as meretrizes.
       Havia quinze dias que o comendador faltava aos encontros no no largo da Cariosa. O coronel preocupado vai até sua loja na Rua dos Pescadores, saber o que ocorreu. Saudosos combinaram que se viriam naquele dia, à tarde, no horário e local habitual.
      Após um farto jantar, o coronel que estava com a pulga atrás da orelha, perguntou ao amigo, o motivo de tão longa ausência.
     - Encontrei uma mulata!
     - Como foi isso?
     - Eu a conheci no porto. E sabendo que ela viria  fazer a vida aqui no Largo da Carioca. Ah! meu amigo não perdi tempo, aluguei uma lancha e a convidei para me acompanhar. Ao final da viagem já estava bem íntímo dessa mulata.
      - E onde ficaram nestes quinze dias ausente?
      - Na pensão Baldut, no Catete, foi lá que me apossei deste lindo primor!
    Enquanto falava dos atriburtos da mulata sua fisionmia se assemelhava a de um suíno.
      - E o que fará com ela? pergunta o coronel. 
     - Oras! Irei prová-la, enfeitá-la e lançá-la.
      - Não achas que te excedes?
      - Não, gasto muito pouco com ela.
      - Iremos ao cassino hoje, vou buscá-la, vai te preparar, já reservei um camarote, te espero lá. 
    Quando o coronel chegou ao cassino o espetáculo ainda não havia começado, acendeu um charuto e ficou a olhar os convidados aproximarem-se, até chegar o comendador e seu "achado" .
      A primeira parte o espetáculo transcorreu friamente. A orgia começou mais tarde. Cansados os três amigos foram sentar-se em uma mesa e após o jantar, começaram a conversar. Alice, "a mulata" começou a contar sua vida quando morava em Recife e os conselhos que sua mãe lhe dava.  Alice contou que o pai roubara e abandonara sua mãe quando ela ainda era um bebê, o comendador ficou perturbado e perguntou a mulata:
     - Como chamava teu pai? 
     - Não me lembro, bem... Parece que era Mota ou Costa...Não sei!
     - Que interesse é esse comendador! Quem sabe você não é meu pai? Gracejou ela.
       O gracejo caiu de chofre nos dois espíritos  tensos .
       O Coronel querendo ajudar o amigo, perguntou:
    -  Você nunca mais soube alguma coisa, qualquer coisa? 
    - Ah! Uma vez ouvi alguém contando para minha mãe que ele estava no Rio emplicado num caso de moeda falsa. É só o que me lembro, disse ela.
     -O que! Quando foi isso? indagou perturbado o comendador.
     -Bem, mamãe morreu em 1893, ouvi contar essa história em fevereiro. É isso.
       O comendador não perdera uma sílaba; e, com a boca meia aberta parecia querê-las engolir uma a uma, com as faces congestionadas e os olhos esbugalhados, sua fisionomia estava horrivel.
       Durante um segundo nada foi dito. Ficaram como idiotas; em breve, porém, o comendador, num supremo esforço, disse com voz sumida:
      - Meu Deus! É minha filha!  
                                                        Setembro de 1904.



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