Elogio DA LOUCURA
(Eramo de Rotterdam)
Elogio da loucura, sátira da sociedade dos séculos XV e XVI, aparece com intuito de oferecer um espelho para que a mesma possa sorrir a toa vendo-se ridícula, palhaça e mesquinha.
Fruto de viagens, contatos com intelectuais da época, autoridades eclesiásticas, o livro, escrito em poucos dias, reflete o que o autor via, de modo particular entre os que detinham o poder. Alertando sobre a hipocrisia da sociedade, sobre a perda de valores da vida como regozijo da loucura que toma conta do mundo, centrando como louco, o mundo que construímos. Assim, o autor nos leva a refletir sobre todas as coisas que a sociedade impõe aos cidadãos e os males que a afligem.
Erasmo dedica seus escritos ao amigo Thoma Morus, justificando a homenagem pela aproximação do nome Morus pela palavra moira (grego) que significa loucura.
A loucura é quem fala – É ela, a única capaz de alegrar deuses e homens, é capaz de expulsar a tristeza das almas. No discurso, transforma-se em sofista, imitando os sábios para ouvir elogios de si mesma, enaltecendo-se de sua própria gloria, com mais modesta do que doutos ou famosos que sem pudor, subornam a bajulações do orador em troca de dinheiro, ouvindo deles elogios e mentiras, espantando-se da ingratidão dos homens ou pela sua indiferença.
A sinceridade da loucura se revela por um olhar, espelho menos mentiroso da alma. Não se disfarça, não dissimula o que sente no coração, não se mascara como aqueles que representam papel de sábios desfilando como macacos vestidos de púrpura ou como asnos com pele de leão, são espécies de homens que se envergonham da loucura, mas aplicam-lhes a outros como ofensa. Esses são os mais loucos.
Na origem, a loucura é filha das relações do amor, que é infinitamente mais terno, seu pai foi um Plutão robusto cheio de calor da juventude e do néctar que sorveu aos goles no banquete dos deuses. Nascida nas ilhas afortunadas de Delos, onde as colheitas se realizam sem trabalho nem semeadura, onde se desconhece doença e velhice. Foi amamentada pelas ninfas: Embriaguez e Ignorância.
Tem como companheiras; o amor próprio (philautia), o esquecimento, a preguiça, a volúpia, a irreflexão e a moleza, além de dois deuses: a boa mesa e o sono profundo. Com esses servidores, estende seu domínio sobre o mundo e seus monarcas.
Na Felicidade é a loucura que encerra tudo o que há de bom. Se não houvesse loucura, tudo na vida seria triste, fastidioso, aborrecido. E é o prazer, animado pelo tempero da loucura que traz felicidade.
A loucura da infância a velhice – Infância, idade mais alegre e agradável da vida, há a sedução da loucura, sucedendo-se na juventude, com os encantos da loucura, poupa-lhes a razão e as preocupações. Ao tornar-se adulto, a graça desvanece, definha em vivacidade, esfria a alegria. O homem se afasta da loucura e vive cada vez menos. Surge a velhice, insuportável para si e para os outros. Para amenizar suas misérias reaparece a loucura, fazendo voltar à infância onde os humanos bebem em goles o esquecimento, perdem a razão e falam disparates. Por isso, os velhos adoram as crianças e são por elas adorados, se assemelham, diferem apenas nas rugas e nos anos.
A loucura prolonga a vida. Seus benefícios são para o próprio homem ao qual é reconduzido ao melhor tempo de sua vida e ao mais feliz, se o homem vivesse sem cessar com a loucura, permaneceria sempre jovem, porque “Só a loucura prolonga a juventude e retarda a malfadada velhice”.
A loucura anima as comemorações – há homens de idade avançada, que são mais amigos da garrafa que das mulheres, sua felicidade é encontrar-se nos locais que se bebe muito, porém, de que adianta abarrotar o estômago se olhos, ouvidos e alma não se nutrissem de brincadeiras, risadas e palavras alegres? Aí entra a loucura como responsável por essa parte do serviço da mesa.
A loucura se revela de formas variadas – Podemos ver loucos que morrem de amor e não são correspondidos, os que se casam por um dote, os que são pagos para representar a dor em velórios, os que vivem de empréstimos e se consideram ricos, os que vivem pobremente para enriquecer o herdeiro e até os que sem motivo largam mulher e filhos e vão em romaria a Jerusalém, Roma ou Santiago de Compostela.
Na loucura dos filósofos – Tentando explicar sem hesitar o raio, os ventos e outras coisas inexplicáveis, como se fossem confidentes da natureza e delegados do conselho dos deuses o que para provar que nada sabem, bastaria apenas observar suas discussões sobre todo e qualquer fenômeno.
A loucura presente na Bílbia – Eclesiastes no capítulo primeiro[I, 15]: “ O número de loucos é infinito” – Jeremias capítulo dez [X, 15], “Todo homem se torna louco por sua sabedoria” Só Deus é sábio – Eclesiastes no capítulo VII, 5 : “ No coração dos sábios a tristeza; no coração dos loucos, a alegria.
A loucura, falando como mulher conclui sua preleção lembrando do provérbio grego: “Muitas vezes, até mesmo o louco raciocina bem”.
BIBLIOGRAFIA:
ERASMO de Rotterdam – tradução de Ciro Mioranza – 2ª ed. Editora Escala – São Paulo-SP.
Resumos Relacionados
- Ensaio Da Loucura
- Elogio Da Loucura
- Elogio Da Loucura
- Poemas
- A Menina Que Usava Terno
|
|