Fernão de magalhães
(Fernando Correa da Silva; Adaptado por Mauricio Figueiredo)
Em uma manhã, provavelmente do ano de 1516, um Junco vindo de Malaca chega ao
porto de Ternate, na ilha de Amboína, situada no paradisíaco arquipélago do mar de Sonda.
Logo é rodeado pelas canoas e jangadas do rei da ilha. O comandante desce numa delas e
dirige-se à terra. Traz com ele um grande trunfo para obter a simpatia de Sua Majestade.
Atravessa o areal, cruza as poucas ruas onde pipocam cabanas de telhados curvos e
pontiagudos, construídas sobre pilares. Finalmente alcança o palácio. Não é difícil conseguir
uma audiência com o monarca, é um Rei afável, governando um povo ainda sem temores e
ambições, pois a natureza lhes dá tudo o que precisam Têm bom clima, boas terras, boas
colheitas, praticamente não utilizam dinheiro em uma economia primitiva e natural. Com alguns
enfeites e bugigangas se pode obter em troca algumas centenas de quilos de cravo.
Sua Majestade aparece. O comandante faz uma reverência respeitosa e diz:
— Que Alá proteja Vossa Majestade.
O rei retribui o cumprimento.
— Venho de Malaca, apenas para alegrar a existência de um súdito seu que anda
distante de sua família e de sua longínqua pátria.
— Serrão? — pergunta o Rei.
O comandante confirma. Sua Majestade manda chamar o Vizir. Pouco depois um homem de
pele clara e grande barba entra na sala. É um homem de traços duros e ao mesmo tempo
amáveis, um conquistador rendido à magia dos trópicos.
O comandante árabe o saúda com astúcia, sem especificar nomes de deuses.
— Que o Deus Todo-Poderoso o proteja senhor. Vim de Malaca lhe trazendo uma
carta vinda de Portugal...
Os olhos de Francisco Serrão se umedecem. Trocara voluntariamente de pátria e de
vida, mas o prazer de saber que ali estão algumas palavras escritas em sua língua materna
despertam-lhe subitamente a saudade, reminiscências antigas, amizades passadas e
indestrutíveis.
—... E sabendo como se encontra distante e isolado de seus entes queridos, não quis
deixar de agradar a Deus, por estar levando alegria ao coração de um semelhante...
Serrão toma logo em suas mãos a carta enquanto o Rei o contempla bondosamente. Não
pode ele entender a angústia que agita este homem nascido além de Malaca, além do Ceilão,
além da Arábia, além mesmo do longínquo reinado do Egito. Desse marinheiro a serviço de um
Rei nunca visto e que ao naufragar no Mar de Sonda enfrentou grandes aventuras até chegar
na ilha de Amboína. No início pensou em construir um barco e com seus amigos navegar até
Malaca que na época já estava em poder dos portugueses. A lealdade ao seu Rei e a sua
pátria o deixava com esta obrigação. Mas os dias foram passando e os náufragos mais e mais
adiavam sua partida e ao final das contas acabaram por ficar definitivamente na ilha. O Rei,
considerando as aptidões de Serrão, o nomeou Vizir. Deu-lhe casas, terras, escravos e uma
princesa como esposa, com a qual teve três filhos. O monarca pensava ainda como um súdito
de um Rei tão poderoso, um comandante de um navio tão grande como era o seu, trocara suas
honrarias pela vida tão pacata e despida de opulências como a que levava em Amboína.
Nunca conseguiu entender este mistério.
— A carta é de seu amigo Magalhães? Pergunta Sua Majestade.
— Sim, é uma carta de Fernão.
— Majestade, diz o comandante árabe — Já que a carta ao Vizir me trouxe a Amboína,
aproveitei também para trazer alguns presentes para Sua Majestade e para seu povo.
Espelhos, sedas, braceletes, sinetas...
O Rei logo se interessa pelo assunto e deixa Francisco Serrão entregue ao prazer da
leitura. Notou no entanto que seus olhos ardiam de curiosidade e emoção. Encolheu os
ombros, deu um sorriso paternal e começou a admirar maravilhado a campainha dourada que o
comandante árabe tirara do bolso.
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