Vinculos Afetivos,,trabalho e vida no mundo globalizado
(Estevis)
O número de vítimas que a globalização faz a cada dia é avassalador. Este processo não é recente, Marx já antevia em sua célebre frase: “Tudo o que era sólido e estável se desmancha no ar.” Embora não seja recente, a velocidade com que ocorre atualmente e os “desmanches” que deixa por onde passa são em ritmo frenético.
Uma série de elementos fazem o leque de perda dos chamados, literalmente, “perdedores” no jogo do capital. Perdem o emprego, o prato de comida, o teto, a família, a dignidade e outros marcos de sustentação da vida social.
Tidos como os próprios culpados por não terem encontrado o estreito e difícil caminho ao paraíso, os excluídos têm agora ao redor uma infinidade de caminhos, mas todos eles levam ao inferno. Quem conseguiu pegar o bonde da globalização luta para não ser expulso do trem que parte em alta velocidade, os que já caíram dificilmente voltarão a pegar carona, estão mais próximos de se afundarem cada vez mais.
Porém, a globalização não implica apenas em mudanças da movimentação do passaporte de troca de bens e serviços - o dinheiro. Os seres humanos também têm que se adequarem às personalidades mercadológicas exigidas pelas mudanças.
As quitandas de esquina já não fazem parte da paisagem urbana e do círculo de amizades do bairro. Foram engolidas pelos grandes hipermercados que fazem o encantamento do desejo do “estar incluído”. Onde quer que haja possibilidade de vínculos afetivos a globalização passa e esteriliza, deixando um cenário com regras de sobrevivência aos mais fortes em quantidade de escrúpulos. Quanto mais escrupuloso melhor. Quanto menos pensar na existência, nas emoções e conseqüências das ações, melhor. O que importa é o “aqui-e-agora” quantificado no dinheiro.
Os encontros de praça já foram incinerados no forno do obsoleto. Agora são feitos através do mundo virtual, encobertos no simulacro da imagem digitalizada que serve como uma embalagem para definir se o encontro poderá a vir ocorrer na vida real. Se vier a ocorrer a embalagem pode não vir reproduzida à maneira idêntica do digital e o conteúdo tende a ser descartado antes mesmo de verificado.
Vivemos em multidão, porém, sozinhos. Aglomerados de casas com portões e muros que ocultam cada vestígio da existência de vida humana. As ruas estão repletas de seres humanos desconhecidos, quando muito os conhecidos recebem um breve cumprimento em distância, o que já é o bastante. - A multidão que vivemos é eminentemente estruturada em regras mecânicas de etiquetas sociais. Com base em estímulos e respostas de convivência social que nos mantém em certa distância da qual nos sentimos seguros, pois, a confiança não resiste ao modo de vida dos negócios e do dinheiro.
Paira no ar um sentimento de desconfiança universal. Nossos vínculos são negociáveis como mercadorias. Para que facilitar a sedimentação de vínculos duradouros se posso cair em uma armadilha, ser usado e depois descartado tal como fazemos com as mercadorias?
O que você quer de mim? O que você tem para me oferecer? Quais são as provas de verdade que você pode colocar na mesa? - Há inúmeras perguntas que nos mantém afastados. Insegurança e desconfiança são as únicas respostas que temos para oferecer um ao outro.
Todos nossos vínculos tendem a ser baseados em contratos que colocam uma condição no caso da dissolução. O casamento é realizado aos beijos e alegrias do casal, mas em oculto fica um contrato que dispõe sobre o quantificável em dinheiro caso amanhã os beijos virem tapas.
Os namorados fazem e refazem o contrato verbalmente de acordo com o devir. As fronteiras que definem até um ou outro pode ir são demarcadas nas relações de troca baseadas no fazer para receber.
Os contratos de empregos podem ser feitos hoje, mas desfeitos amanhã para ocupação de alguém mais “habilidoso”, que é aquele que produz mais e aceita ganhar menos. Do contrário surge uma nova tecnologia que destitui o sujeito que parou para o descanso noturno.
Nossos cérebros estão demasiadamente defasados em relação à velocidade do progresso. Guardamos o nome da rua, de alguns familiares e outros conceitos que precisamos na vida profissional. O que vai além está entregue às memórias eletrônicas que guardam todo sentimento de que estamos vivendo a era da informação, onde não é preciso fazer mais esforço além do sentar e girar o mundo através dos “clicks”.
Vida é trabalho e trabalho é vida. Não são duas coisas diferentes, é um processo único. As horas de descanso não significam que são horas livres do trabalho. O trabalho não termina ao turno das 8 horas diárias, o trabalho impregna o modo de ser, de pensar e de agir; o ambiente enclausurado das obrigações, cumprimentos e metas acompanham os pensamentos e anseios após o término do expediente. - O processo de adoecimento pelo trabalho é uma constante, exigir de alguém o esquecimento do trabalho é como exigir-lhe a morte.
Corremos atrás de títulos, certificados e diplomas com a idéia de garantir um bom pedaço da riqueza produzida, garantir uma vida digna, confortável e segura. Mas os desejos parecem ser eternamente adiados, os esforços de um profissional por mais renomado que seja, quando muito dá a garantia de um descanso cômodo para poder olhar outros detalhes da vida que nunca puderam ser vistos devido ao tempo dos negócios.
Para onde corremos tanto? Para a vida ou para a morte?
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