Travessuras DA MENINA MÁ.
(Mario Vargas Llosa.)
Desde a adolescência Ricardo Somocurcio, ama a chilenita Lily e esta, mais que tudo, almeja um status social que ele jamais poderá lhe dar. Em busca da vida desejada Otilita, a filha de Arquimedes, o humilde construtor de quebra-mares, será Lily, a camarada guerrilheira Arlette, madame Robert Arnoux, Mrs. Richardson, a japonesinha Kuriko esposa do pavoroso senhor Fukuda, Lucy Solórzano Cajahuaringa casada com o bom menino etc.
Enquanto relata a trajetória de vida do peruano Ricardo, também “um coisinha à-toa”, e seu amor de muitas faces, Vargas Llosa nos conduz por Lima, Paris, Londres, Tóquio e Madri descrevendo com lucidez e economia de palavras alguns momentos marcantes da História na segunda metade do século passado. Uma introdução, para os mais jovens, e o recordar para os mais velhos, de eventos e pessoas importantes para a compreensão do mundo como ele é hoje.
Os movimentos armados pós-revolução cubana e as freqüentes convulsões políticas na América Latina são analisados e avaliados através da experiência peruana. Jovens são enviados para treinamento guerrilheiro em Cuba, Coréia do Norte ou China Popular. Alguns desconheciam o treinamento ao qual seriam submetidos e muitos serão mortos em Mesa Pelada ou em outras regiões da selva amazônica ou dos Andes sem direito a uma sepultura ou cova de referência. Em Paris somos apresentados aos líderes Luis de La Puente Uceda, fundador do Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR), e Guillermo Lobatón, comandante da coluna Túpac Amaru do MIR. E depois, o golpe militar e a ditadura do general Juan Velasco Alvarado.
O segundo lustro da década de 60 teve palcos, atores e platéias para outras revoluções.
Em Londres os jovens revolucionavam a cultura, os costumes, a moral, e questionavam a ordem estabelecida. Llosa relaciona entre nuitos produtos daquele processo a música do Beatles, dos Rolling Stones com Mick Jagger, a popularização das drogas, o teatro de Peter Weiss e a direção de Peter Brook, as manifestações contra a guerra do Vietnã, os “hippies”, as viagens ao Nepal, a liberação sexual, os famigerados “skinheads”, cujo ídolo era o racista Enoch Poewel etc. Em Paris, a revolução de maio de 1968 acelera a queda do General De Gaulle e inaugura a era Pompidou, o que permite a descoberta de outra esquerda, diferente daquela que Cohn-Bendit – um dos líderes do movimento de 68 – chamava de “la crapule staliniene”.
No início da década de 70 uma doença manifesta-se principalmente entre as comunidades de homossexuais, usuários de drogas injetáveis e hemofílicos. Vargas Llosa consegue nos transmitir o clima de medo dos pacientes e incertezas entre os médicos diante de algo ainda desconhecido. O vírus HIV, causador da Síndrome de Imuno Deficiência Adquirida (SIDA), só seria descoberto em 1984.
Pelas mãos de alguns dos personagens somos introduzidos no Ginza, bairro da boemia em Tóquio, e mais especificamente, em um dos muitos motéis localizados aí, o Château Meguru, onde todas as formas de sexo são permitidas e o instrumental necessário, principalmente sado-masoquista é disponibilizado. Mas, é através do mafioso Fukuda que Llosa não nos inicia, e sim nos afoga no mar de porcarias que as relações humanas podem chegar. Que a Yakusa não seja benevolente com o senhor Fukuda é o que o autor nos faz desejar.
“Travessuras da menina má” é um romance de vidas, não é um tratado de História. Porém Llosa consegue dar um tratamento pessoal aos fatos e personagens como só um historiador é capaz. Aliás, qualquer um que tenha testemunhado e convivido apaixonadamente com aquele mesmo universo também o faria. Desde que fosse um clone perfeito de Mario Vargas Llosa.
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