Deus, um Delírio
(Richard Dawkins)
"Falarei o que quero falar", diz Richard Dawkins, com relação à sua frase nominal, que dá o título de seu livro, cujo tema é a religião, e o assunto é desmascará-la como uma "grande ilusão".
Segundo ele, o problema-raiz é acreditar na crença da crença, que tem como resultado a aceitação de uma ilusão_ vidas-não-livres. De repente, há o desejo de libertação, e não percebem que poderiam ter largado a fé: "Eu não sabia que podia!", exclamam.
Imaginem um mundo sem religião, um mundo tão bem cantado por Lennon, em "Imagine": "...and no religion too", diz ele, e nos faz um convite para acompanhá-lo nesse sonho. Assim, inicia uma crítica realista, baseada em argumentos, contra a hipótese da existência de Deus.
Para tanto, põe-nos imersos nas leis da física, frente a um deslumbramento maior que os sonhos de alguém. Para aumentar a lucidez do que expõe, cita Carl Sagan, admirado de que nenhuma religião tenha admitido a ciência e concluído: "Isso é melhor do que imaginávamos". Deixa claro que é ateu ( sem Deus, sem alma, sem milagres). Delírio são os deuses sobrenaturais, afirma, e denuncia a barreira (de fumaça), exageradamente erguida para proteger a fé em Deus. Como exemplo, desnuda um fato recente: as caricaturas de Maomé, na Dinamarca, que tão bem definem o privilégio desproporcional que a religião a si reclama.
A fim de delinear o "retrato-abstrato" de Deus, utiliza adjetivos-sinônimos, que vão de um grau mais leve, como ciumento, até um maior, de indignação, como pernicioso, malévolo, cioso de receber o dízimo, sem sexo definido. Bate em seu mistério-primeiro: "E a chamada Santíssima Trindade? Ele é três ou temos três em um?" Inintelegível. Politeísmo ou monoteísmo?
Analisando os argumentos a favor da existência de Deus, mostra a fragilidade e inconsistência dos mesmos, as falsa raízes e a falsa moral, comparando Deus com as divindades virtuais da Internet e também com a teoria do "bule chinês" (Bertrand Russel), rodando em torno do sol. Não há como prová-la. É como perguntar qual a cor da abstração. Alguns são baseados na idéia de regressão a um deus antropomórfico, incrustado com o paradoxo: onisciência e onipotência, o que é anulado pela evolução. Entre outros, estão os argumentos: ontológico _ pode ser usado até para provar que os porcos podem voar; da chantagem emocional_ com a máxima: Deus o ama, portanto, existe"!!!; da beleza_ que só destaca o artista; da experiência pessoal ( visão, vozes, "sentido"), relatando testemunhos, em que confundiram os cacarejos da "pardela-sombria" com a voz do diabo, a declaração de George W. Bush: "Deus deu a ordem para invadir o Iraque" e as vozes dos vários Napoleões, em manicômios. Dá para deduzir que, para o "estripador", foi Jesus que o mandava matar? No entanto, a ciência já demonstrou que o cérebro tem a habilidade de inventar truques, fantasmas, anjos, Virgens-Marias, sons, vozes... até a voz do vento. No das escrituras_ não dá para confiar. Nem os próprios teólogos nele confiam. Não concordam nem onde Cristo nasceu ( e se nasceu).
Entre os argumentos que negam a existência de Deus, cita o da improbalidade_ o fato de o simples evoluir para o complexo destrói a ilusão de um projetista; o princípio antrópico ou científico se fixa na evolução, e sua versão cosmológica nos fala de bilhões de planetas, do universo (suas possibilidades de vida), multiversos _ "coexistindo como bolhas de espumas", ou, como diz o físico Smolin, há evolução no universo, como também universos podem nascer de buracos negros, negando a teoria do "big crunch"; o do conforto ( da origem da religião) se parece com uma cauda de pavão: propaganda extravagante para atrair..."fiéis".
O centro divino no cérebro, defendido por alguns, é, para Dawkins, caso de epilepsia. Compara a propagação da religião a "memes" (replicadores culturais), plantados nos cérebros humanos.
Quanto a nosso senso moral, afirma que ele precede a religião _ ser bom só para obter a recompensa eterna não é moralidade, é "puxação de saco!". Sobre os evangelistas diz que nunca se comunicaram, mas são unânimes em citar as ordens de Deus para matar, escravizar, agredir, dominar... As histórias de Ló e de Abraão são arrasadoras em sua moral, e se diz "de queixo caído" ao constatar que, atualmente, esse "monstro do mal" serve de modelo moral às pessoas. Considera a venda de indulgências, para se conseguir um lugar no céu, um golpe histórico.
Por fim, adjetiva a doutrina da expiação _ cruel, sadomasoquista e repugnante, fruto de um homem que nem tem sua existência comprovada. considera a religião um divisor perverso, de onde resultam as guerras, dominação econômica, pedofilia.
No final, através da metáfora da "burca", da mulher que espia o mundo, mostra que também vemos o cosmos por uma estrita fenda, que só a ciência pode dilatá
-la _ seja através de telescópios, experiências, fatos, fórmulas, teorias, moléculas, partículas, hipóteses de outros mundos e mundos possíveis.
Desvenda "seu caso de amor com a ciência"e fica feliz por estar vivo e livre por ver os limites científicos se extendendo, consciente de que não estamos preparados para saber da imensidão de universos, misteriosos e enigmáticos.
Imaginem um mundo sem religião...
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