Capitalismo Monopolista e Serviço Social
(José Paulo Netto)
O Serviço Social como profissão institucionalizada e legitimada, surge com a questão social, demarcado pelo estatuto das condutas assistencialistas e filantrópicas consideradas como suas protoformas. Porém, o histórico social da profissão não se esgota na questão social e sim nas suas peculiaridades no âmbito da sociedade burguesa fundada na organização monopólica.
Na tradição marxista, está aceita que o capitalismo do século XIX experimenta modificações de ordenamento na dinâmica econômica, com reflexos na estrutura social e nas instâncias políticas da sociedade. Período histórico em que o capitalismo concorrencial dá espaço ao capitalismo dos monopólios. Esse fenômeno ficou conhecido como estágio imperialista, a partir dos estudos leniniano.
O capitalismo monopolista eleva o sistema de contradições da ordem burguesa nos seus traços de exploração, alienação e transitoriedade histórica, segundo a crítica marxista.
A constituição da organização monopolista viabilizou seu principal objetivo: o acréscimo dos lucros capitalista através do controle dos mercados. Assim, a organização monopólica da economia capitalista, faz crescer os preços das mercadorias e serviços, eleva as taxas de lucros nos setores monopolizados, gerando um sub-consumo e redução na taxa de lucro de investimentos gerados pela concorrência, economia de trabalho pela inovação tecnológica; por fim, o aumento da taxa de afluência de trabalhadores industrial de reserva.
Nesse período, dois elementos fazem ingresso no cenário social: a supercapitalização, o capital acumulado cresce dificultando sua valorização; o parasitismo instaurado na vida social em razão do monopólio. O capitalismo monopolista conduz a contradição: socialização da produção e apropriação privada. Novos mecanismos no desenvolvimento vitimizam-se na acumulação e valorização capitalista e o eixo da intervenção estatal na idade do monopólio serve para garantir superlucros, e com isso, o Estado acaba desempenhando múltiplas funções.
O capital monopolista é assim, a lógica do Estado, tendo como finalidade econômica o “comitê executivo” da burguesia que opera para a acumulação e valorização do capital monopolista.
A política social no capitalismo concretiza-se nas lutas de classe, decorrentes da mobilização da classe operária trabalhadora, o Estado, apresenta respostas antecipadas e estratégicas a suas ações. Nessa dinâmica bipolar entre seguimentos da sociedade e Estado burguês os confrontos e conflitos são inevitáveis, distorcendo as conexões casual entre protagonistas em termos de interesses e estratégias que por sua vez, são acentuadas pelas agências privadas da sociedade inserindo novas matizes na dinâmica do setor afetado.
Um dos problemas entre o público e o privado é o caráter público da questão social que acompanha um esforço aparentemente de natureza privada nas manifestações individuais. O Estado burguês no capitalismo monopolista converte questão social em problemas sociais.
Assim, as estratégias de classe do Estado monopolista burguês, envolve de forma distinta as perspectivas públicas e privadas em termos de questões sociais. Na perspectiva pública quando trata questões sociais de forma massiva nas curvas do desenvolvimento econômico, e privada nos momentos anteriores e posteriores à emergência de conjunturas críticas. Onde a perspectiva do Estado burguês no capitalismo monopolista é de consideração pública dos problemas sociais e que, o primeiro, subordina o último sistematicamente arrancando-o do ethos individualista para ressurgir com privilégios das instâncias psicológicas na existência social.
A medida que a ordem monopólica invade e devassa esse universo simbólico e afetivo do indivíduo as mediações psicológicas entre indivíduo e sociedade, ganham peso, e o individual passa a identificar-se com o psíquico. Surgem propostas para redefinições de características pessoais com estratégias e terapias de ajustamento. A atomização social é aceita no plano fático como alternativa de significação e valor à personalidade.
Partindo desse processo histórico social, podemos observar o Serviço Social emergindo enquanto profissão na intercorrência de processos econômicos, sócio-políticos e teórico-culturais instaurados no espaço histórico-social. Segunda metade do século XIX, criação dos primeiros cursos de Serviço Social incorporado a atividades filantrópicas, afinadas de um instrumental de natureza técnica. Porém o que passa a ser fundamental para a profissão do S. Social é a criação de um espaço sócio-ocupacional onde o agente técnico movimenta-se estabelecendo-se em condições histórico-sociais no mercado de trabalho.
Podemos concluir nessa etapa que, a história da profissão, quer no campo intelectual ou da intervenção, foi marcado por vetores histórico-sociais e matrizes teórico-culturais precisas, e que, a ampliação do sistema de saber para o Serviço Social era um processo orgânico e cumulativo com incorporação de novos quadros teóricos e analíticos em sua congruência e padrão de articulação com a massa crítica. Porém, as diferentes concepções que marcaram o princípio constitutivo do Serviço Social como profissão, foi também o seu fio condutor de afirmação e desenvolvimento apresentando-lhes com base factuais para o Serviço Social: o universo problemático de demandas histórico-sociais; o horizonte do exercício profissional e a sua modalidade específica de intervenção.
Por tanto, a prática profissional do Serviço Social foi permeada pelo sincretismo das condições histórico-sociais e teórico-ideológicas
Bibilografia:
NETTO, Jose Paulo. Capitalismo Monopolista e Serviço Social – São Paulo: Cortez, 1992.
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