Até ao Fim
(Vergílio Ferreira)
Nesta obra, o autor parece entender o ser como parte integrante de uma ordem universal, e a condição humana é abordada sob dois aspectos metafísicos essenciais: limitação e morte e desejo de infinito ou imortalidade.
A nível da escrita, esta obra tem uma característica que salta à vista e que desde logo nos prende a atenção.
Foge aos padrões de regularidade. Ao longo do romance podemos constatar que o autor recusa absolutamente a linearidade na sua escrita. É inovador. Não conta uma história à velha maneira, numa sequência horizontal e cronológica sem perturbações temporais; pelo contrário: o autor desconstrói a narrativa, dá saltos temporais imprevisíveis, cria uma arte de contar que é uma reflexão sobre o ser, na sua condição de mortal.
Nesta estratégia de construção muito particular, ao contar partes da sua vida o narrador da escrita vai recordar. Através da memória refere o que ficou do passado e que fará sempre parte do presente e nesta unidade está o seu eu, a totalidade da sua personalidade.
Até ao Fim , aborda a problemática da vida sujeita ao tempo, à velhice e à morte, que não surge sempre necessariamente por esta ordem, já que a juventude também está igualmente sujeita à morte.
A morte ( não só a de Miguel, mas todas as outras que o personagem já viveu) é, assim, a temática que vai gerindo o andamento da obra, é o atentado à vida, dolorosa e difícil de entender; criando a necessidade extrema da resposta e da verdade já que o ser não pode ser criado para o nada, para a morte.
Para o autor, a solução para a solidão humana, já que o homem nasce e morre só, é tentar a conciliação com os outros. Mas para isso o homem tem de conhecer-se, não pode pretender relacionar-se com os outros se não se conhecer primeiro a si mesmo.
Este processo de comunhão, que o autor aponta, é extremamente difícil, mesmo no caso de laços afectivos muito próximos, como é o dos pais com os filhos. Há sempre uma defesa, o ser humano guarda sempre na interioridade um espaço que é só seu.
A liberdade de cada um acaba onde começa a do outro. Tal como na relação de pai e filho que o romance descreve, em que um dá ao outro referências e valores para que ele possa escolher por si, mas não interfere nas suas escolhas.
Reler, Até ao Fim , de Vergílio Ferreira, faz-nos ver como as boas obras são intemporais. Abordam valores sempre actuais. Quem de nós não conheceu ou conhece uma vida que se perdeu como Miguel, ou um pai angustiado como Claúdio?
Num mundo materialista, o poder e o dinheiro, são para a grande maioria, aquilo porque vale a pena lutar, e o vazio acaba por se instalar.. Acabam por se descuidar afectos essenciais e compromete-se a estabilidade emocional.
A prazo, é a nossa qualidade de vida que fica condenada.
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