Resumo de Constituição do sujeito e relações de gênero em um contexto de ensinar - Silvia Zanatta Da Ros; Sandra Iris Sobrera Abella

O referido texto consiste na apresentação de uma pesquisa realizada em psicologia, na abordagem histórico-cultural a partir dos aportes teóricos e metodológicos de Lev Semionovich Vigotski, o qual compreende que o sujeito constitui-se e é constituído como indivíduo em meio às relações que estabelece no meio social do qual é parte. Esta pesquisa foi realizada a partir de observação efetuada em um grupo participante de um programa de formação para gerentes em serviço, cujos integrantes eram funcionários públicos de um órgão governamental. 20 pessoas compuseram o grupo, cujo perfil pode ser definido pelas características predominantes, sendo assim definido como um grupo de homens (65%), casados (75%), com ingresso na instituição através de concurso em nível superior (70%), chefes (55%), com mais de 15 anos de serviço nessa organização (50%) e residentes na região sudeste do país (40%). O curso teve a duração de duas semanas e o conteúdo ministrado teve como objetivo promover uma visão crítica e o processo grupal e individual de mudança em suas relações sociais na organização. Assim, as relações sociais entabuladas entre os participantes em meio às atividades de ensino-aprendizagem realizadas, bem como os produtos dessas atividades compuseram o material analisado pelas pesquisadoras, cujo objetivo foi o de analisar os movimento de constituição dos sujeitos no decorrer de um processo formativo que aconteceu no desenrolar do referido curso. Esses dados obtidos consistem de falas gravadas em fita-cassete, imagens em vídeo, textos escritos pelos próprios sujeitos; tendo sido trabalhados através de análise dos sentidos encontrados nos materiais áudio e vísuais, bem como os comportamentos dos sujeitos também foram analisados em termos dos movimentos observados de aproximação e afastamento, confrontação e apoio, ocupação de lugares sociais de liderança, subordinação, colaboração, insubordinação, contestação, boicote, resistência, mediação, por exemplo. Sendo que, do material analisado, foram selecionados os movimentos realizados por dois integrantes do grupo, que se destacaram e permitem uma análise interessante no tocante às relações sociais de modo geral, e mais especificamente às relações de gênero, por se tratarem de um homem e uma mulher, que ocuparam lugares semelhantes de liderança, mas o modo como o fizeram explicitaram forte influência dos padrões de comportamente e estereótipos de gênero vigentes na nossa cultura de modo geral e presentes na cultura organizacional da qual participam ativamente e fazem parte recebendo sua influência. Uma das atividades realizadas, fundamental para a compreensão do processo de constituição dos sujeitos no grupo, consistiu na divisão do grupo em subgrupos conforme a categoria em que se inserem, que são os dados do perfil do grupo mencionado anteriormente, sendo que cada subgtrupo recebia adjetivos dos demais. O objetivo do exercício foi o de obter uma visão geral do grupo que começava a se formar. No entanto, foi possível perceber que tais adjetivos, atribuídos a cada um dos dois sujeitos analisados; e também outos adjetivos que surgiram em outros momentos, quando cada integrante falou sobre o grupo e demais colegas, mostraram o quanto foram aceitos pelos demais, possibilitando os movimentos realizados de inserção e liderança nesse grupo. O participante de gênero masculino, foi descrito na primeira atividade por estereótipos predominantemente positivos, o que pareceu colocá-lo, já de início, em uma posição de destaque no grupo, presumindo-se que foi aceito como parte do mesmo. Esse fato possibilitou sua inserção, considerando-se que inicialmente não fez esforço para participar e, até mesmo tentou boicotar a participação dos demais colegas nas atividades seguintes. Sendo que a sua aceitação pelo grupo ficou demonstrada por sua fala num momento posterior, em que descreve o grupo como acolhedor e que por isso se integrou, ocupando lugares sociais relevantes que influíram na constituição do grupo como tal. Resumidamente, o movimento realizado por este sujeito no grupo foi o seguinte: inicialmente mostrou-se sério, distante, mais um observador e também irônico, procurando por diversas vezes descaracterizar as falas dos demais - mostrando-se ambivalente entre as atitudes de proximidade e de afastamento com o grupo; no entanto, no decorrer do curso tornou-se mais integrado e descontraído, até constituir-se como elemento organizador, assumindo o lugar de líder, de ponto de equilíbrio e de mediador entre as pessoas. No caso da participante do gênero feminino, os adjetivos recebidos descrevem-na, de modo geral, como alguém que luta para alcançar uma melhor posição na empresa, não ocupando posição de destaque. Entretanto, também, foi aceita pelo grupo a partir das características que demonstrou no decorrer do processo grupal. Inicialmente ela agiu de modo mais tímido no grupo, evitando se expôr, participando mais à medida que ía conhecendo as pessoas, até chegar a ocupar lugar de liderança e mediadora das relações no grupo e ser reconhecida como ponto de apoio e equilíbrio no mesmo. Enquanto líderes, ela foi adjetivada como ativa, forte, decidida, mâezona e centralizadora, associada assim à figura materna; enquanto a função dele enquanto líder foi pouco destacada no grupo, apesar de ambos sujeitos terem ocupado o mesmo lugar social no mesmo, o que indica que costuma ser mais esperado que esse lugar seja ocupado por homens. Enfim, foi possível identificar uma estreita relação entre o individual e o grupal, em que um aspecto influencia no outro, configurando-se uma relação dialética entre sujeito e grupo mutuamente constitutiva. Assim, pode-se afirmar que o grupo apresenta um movimento dinâmico em que ocorrem significações e re-significações constantes em meio às relações interpessoais, que no caso da pesquisa apresentada ocorreu num contexto de ensino-aprendizagem de profissionais em contexto de formação em serviço.

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