O processo de constituição do sujeito em um contexto grupal: relato de
(Andréa Vieira Zanella; Sandra Iris Sobrera Abella.)
Esta pesquisa consiste na análise do processo de constituição do sujeito de dois integrantes de um grupo que foi constituído para fins de formação de gerentes em serviço. A análise foi efetuada a partir da abordagem histórico-cultural em psicologia, fundamentada nas contribguições teóricas e metodológicas de Lev Semionovich Vigotski, psicólogo russo da década de 20. Este autor afirma que o sujeito se constitui em meio às relações sociais nas quais participa, não podendo ser separado destas. Sendo que, portanto, o sujeito constitui-se em sua singularidade em meio ao coletivo, o que o caracteriza como um ser social nos diferentes contextos.Nesta pesquisa, são estudados os processos de mudança ocorridos com dois participantes cujos movimentos no grupo foram analisados, sem separá-los, no entanto, do movimento grupal. O grupo era composto por vinte integrantes, funcionários de um órgão da administração direta reunido para participarem de um curso com duração de duas semanas, organizado pela própria instituição com o objetivo de desenvolver uma visão crítica, o compromisso ético e melhorar a eficácia no trabalho na instituição. Os dados coletados consistem em depoimentos gravados em fita-cassete, fotografias dos participantes, gravação de realização de atividades em vídeo, trabalhos escritos e anotações que foram feitos pelo monitor da turma. Dentre os participantes foram selecionados dois sujeitos - um homem e uma mulher - para a análise de seus movimentos no grupo, em virtude de terem se destacado no decorrer do processo, em razão dos movimentos realizados, marcados por conflitos e resistências, conciliações e confrontos, em meio aos lugares ocupados e relações de poder vigentes. Os processos de mudança desses sujeitos foram percebidos e analisados através das falas e das ações desses sujeitos, expressando como significaram suas vivências no grupo. As características mais freqüentes do grupo foram: homens (65%), casados (80%), com ingresso através de concurso de escolaridade de nível superior (80%), subalternos (75%), com tempo de serviço acima de 15 anos (45%), e residentes na região sudeste (45%). No caso dos sujeitos investigados, as categorias nas quais os mesmos se inserem são: ela é separada (a única no grupo), subalterna, com mais de 15 anos de serviço na instituição, da região sul, com entrada na mesma através de concurso de nível superior; ele é casado (o único do grupo casado pela terceira vez), subalterno, acima de 15 anos na instituição, da região centro-oeste. A maioria das características são comuns aos demais colegas, sendo que as singularidades os diferenciaram dos demais integrantes. > A participante revelou um movimento no qual inicialmente mostrou-se aberta para novas experiências, expondo-se bastante com relação a sua história pessoal e relações no trabalho permeadas por constantes atritos com seus chefes. No entanto, logo as contradições entre seu discurso (de busca de mudança e de que resolve seus conflitos) e suas ações tornaram-se patentes no contexto do curso em questão, pois logo tornou-se visível que ela não estava disposta a mudar e também que não resolvfe seus conflitos. Esta imagem de "encrenqueira" que acabou demonstrando no grupo a afastou do grupo, que a excluiu em razão dessas características demonstradas. Já na segunda semana do curso, ela buscou aproximar-se novamente do grupo agindo em conformidade com este de forma contrária ao seu comportamento costumeiro que era o de confrontar, mudando para um comportamento de submissão em uma situação onde não reclamou de seu descontentamento com uma das coordenadoras do grupo, do mesmo modo que a maioria dos demais colegas. A partir desse comportamento foi possível constatar que ela foi aceita como parte do grupo. Quanto ao participante, expressou logo de início que estava disponível para novas relações, mas logo afastou-se do grupo mostrando-se pouco participativo, contradizendo ssua fala inicial. No entanto, aos poucos foi se aproximando até o grupo chegar a solicitar sua participação nas atividades grupais. Na segunda semana participou bem mais, estreitando as relações com os colegas, até tornar-se o porta-voz do grupo, expressando em nome da turma o descontentamento de todo o grupo com a coordenadora dessa semana. Ao contrário da primeira participante analisada, no caso deste segundo, as características por ele reveladas no grupo, como sendo instável, popular, festeiro foram aceitas pelos colegas. Assim, foi possível concluir que as mudanças nos comportamentos dos sujeitos aconteceram nesse grupo, a partir das transformaçoes nas formas de pensar, sentir e agir, apesar da dificuldade que é conseguir isso para os adultos.
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